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17 de abr. de 2012

Contos do Tempo Perdido - Livro 2: O falso

Capítulo Cinco: O Falso
O grupo investigou como conseguia toda a região da vila. Era um domínio de arvores e poucos animais selvagens. Desde épocas remotas, aquele lugar era assim. Seton tinha certeza sobre isso após uma breve investigação na floresta.
Já Halphy conversou com o curandeiro da cidade. O padre falava que foi com ela que Annete esteve pela ultima vez, antes de morrer misteriosamente. Algumas pessoas preferiam conversar sobre seus problemas com a curandeira da cidade do que com padre Bernard. Isso o incomodava. Mas poderia ser só um pouco de inveja. O que Halphy tinha certeza era que a cisma do sacerdote não era só por esse motivo. A mulher ao que parecia, era uma mulher que mexia com as forças da natureza, em resumo, druida. O que causou certo ar de curiosidade na ladina feiticeira, pois ela poderia acionar um item mágico.
O resto do grupo ficou de olho nos outros habitantes da vila. Qualquer um na vila poderia ser o causador de toda aquela desgraça. Um ladino disfarçado, um feiticeiro escondido ou até outro ser arcano que poderia usar utensílios arcanos, poderia estar entre os aldeões, tentando apavorar todo aquele lugar. Quem fosse esse inimigo misterioso, tinha ao menos um leve conhecimento sobre magia. Era obvio o que aconteceria agora que membros de um razoável grupo de aventureiros haviam chegado naquela cidade. Era necessário espantar qualquer um que pudesse desmascarar a farsa. Pelo menos era isso que Halphy acreditava. Mas ainda faltava um motivo. Ela então passou esses pensamentos para Lacktum.
Havia uma pequena fonte de frente a igreja. A água era bem clara na construção improvisada. Havia uma figura decorativa quase completamente destruída de uma pedra que parecia vir de longe. A fonte parecia um enorme prato com a figura no centro de tudo. Gor, Thror e Seton sentaram na bordas daquele prato. Enquanto Lacktum e Halphy discutiam sobre o que fariam em relação aquela vila e ao templo de Ixxanon, onde estaria mais uma parte dos conjuntos que buscavam.
Perto deles, só havia um pobre mendigo que tentava dormir mesmo com as discussões que o grupo começava a ter.
-E então, o que descobriram? – Perguntou Gor com os cotovelos em cima das pernas. Os dedos de suas mãos se entrelaçavam, enquanto escutava os relatórios.
-Não há nada, nem ninguém suspeito na floresta. Fiquei a noite toda na mata e não vi qualquer coisa estranha. Pelo menos – falou isso Seton com medo que tivesse deixado algo escapara – foi o que notei.
-O que tenho para comunicar não é muito útil também – afirmou Halphy – Itens arcanos só são usados, quase sempre, por usuários da Arte. Ou seja, magos, feiticeiros e outros que manipulam o mana de forma ofensiva, no caso desse item. E sinto disser, ela não parece manipular magia desse modo.
-Certeza? –perguntou Lacktum, desconfiando da capacidade mental de Halphy.
-Certeza absoluta cabelo de fogo!
-Ela te fez de tonto Lacktum – começou a falar rindo, o homem da cicatriz na cabeça.
-Ah é? E o que descobriu Thror? – retrucou prontamente o arcano.
-Nada - respondeu triste o grego.
-Ainda acho que deixamos algo passar – falou Halphy pensativa
-Bem, não conseguimos sequer uma pista sobre o suposto espírito desencarnado – falou o soldado inglês – mas sabemos que esta nesta vila. Se ao menos...
-Pessoal... – falou Seton, olhando fixamente a igreja.
-Quieto druida! Se ao menos pudéssemos conseguir uma pista. Um movimento suspeito ou quem sabe...
-Pessoal... – continuou o druida.
-Calado! – gritou o guerreiro – Uma atitude que tentasse não chamar a atenção para si. Alguém nessa vila que...
-Pessoal!
-Que foi? – gritou Gor furioso.
-Aquilo ali se caracteriza como atitude suspeita?
Viram então que o druida se referia ao padre Bernard. Ele saia da igreja como vários mantos negros, mas que não ocultavam direito a face do sacerdote. Mesmo que isso enganasse alguém, o fato de estar saindo da igreja. Em um dia inteiro em que estiveram naquela cidade, desde a cena do fantasma na noite passada, aquela foi a primeira chance de descobrir o que ocorria naquela cidade.
-Acho que sim – Gor respondeu ao druida – com certeza Seton.

O grupo seguiu cautelosamente o padre. Deixaram o guerreiro Thror na praça da vila, pois ele nunca largaria a maldita armadura pesada. Só sobraram Seton, Lacktum, Halphy e Gor como perseguidores silenciosos. A ladina aproveitava e caminhava mais na frente como líder e batedora, falando quando os outros deveriam prosseguir. O mago inglês e o druida da foice, por não possuírem muitas armas ou itens de metal ou material pesado, conseguiam acompanhar sem muitas dificuldades a meio sidhe. Já Gor, era experiente, pois mesmo com uma armadura extremamente pesada, ele conseguia acompanhar sorrateiramente o grupo.
Como prosseguiam pela mata, Seton e Halphy pareciam estar no lugar ideal para ambos. O jovem druida parecia ser um exímio caçador naquelas matas espessas, e sua caça seria um padre. Já a garota, aproveitava cada espaço de sombra que encontrava para se esconder. Parecia até que ela estava pronta para assassinar alguém, não para simplesmente seguir.
Depois de um bom tempo seguindo o sacerdote, chegaram a uma pequena área aberta onde ficavam varias pedras. Elas cercavam um pequeno lago que se formava por causa de uma pequena fonte. A água do lago descia em direção de um pequeno rio. Parecia um lugar agradável e lindo, um verdadeiro cenário de conto de fadas. Era possível imaginar uma criatura desses contos surgindo no meio daquela águas. Mas alguém surgiu próximo do padre. Não foi da água, mas sim da floresta. Não era uma ninfa, mas sim uma jovem.
Ela usava roupas simples e humildes. Já sua saia era toda trabalhada e bordada, de modo que mostrava capricho, único item realmente bonito de toda a sua vestimenta. Em compensação seu rosto parecia ser algo de origem divina, praticamente. Seus cabelos castanhos estavam emaranhados, cobrindo boa parte do rosto da moça. Gor notou que o rosto era de alguém que viu na vila. Seton também conseguiu se lembrar vagamente da moça após uma rápida constatação. Eles começavam a reparar que ela deveria ser filha do dono da taverna, era quase certo.
-Mas o que esses dois estão fazendo tão longe da vila? – se perguntou Halphy.
-Não sei – respondeu rapidamente Seton – mas desconfio de algo...
-Como?
-Calados – exigiu Lacktum.
Foi quando todos notaram que tanto o padre, quanto a jovem camponesa, na direção um do outro de uma forma quase romântica. Eles se olhavam como dois amantes de longa data. O padre mostrava um rosto cheio de ternura e bondade, mas com olhos maliciosos. Enquanto isso, a jovem donzela olhava para ele com muita timidez. E então ele ergueu o rosto da jovem com graça única em direção a sua boca.
-Sacerdote maldito! – esbravejou em fúria Seton enquanto caminhava na direção do casal – Cheio de anseios sinistros! Venha aqui maldito!
-Vamos lá Lacktum – falou Halphy, querendo cercar o padre.
-Não sei o que a gente vai ganhar com isso, mas tudo bem – soltou o sinistro mago ruivo.
Quando notou, o padre estava cercado por todo o grupo. Gor vinha pela esquerda, enquanto Halphy surgia da direita. Seton e Lacktum teriam aparecido do meio da mata. O druida preparava com força seus punhos. Ele queria mesmo era enfiar a foice no meio do peito daquele falso sacerdote.
-Mas... Mas o que fazem aqui? – perguntou assustado e espantado o padre.
-Vendo essa cena romântica! – soltou Seton sarcástico.
Foi quando todos viram o druida arrancar uma grande quantidade de sangue do padre em um golpe certeiro de sua mão fechada. Este caiu tão rapidamente que mais parecia um item oco. A jovem com medo e atônita com tudo isso começou a correr na direção da vila.
Gor segurava o druida para não esbofetear mais o padre, enquanto Lacktum E Halphy. Era aparente o aspecto furioso de Seton, assim como a figura amedrontada de padre Bernard. Seria cômico, não fosse tamanha a raiva do homem que trilhava o caminho da natureza, que bufava mais que um animal.
-Ora seu depravado miserável!... – falava isso o druida a cada duas bufadas – Nós tentando descobrir o que esta acontecendo na vila... E você se aproveitando das jovens daqui... Não duvido nada que tenha feito o mesmo com Annete...
-Não tenho que lhes ceder explicação alguma. Sou um sacerdote de Deus. Só tenho que entregar a ele meus pe...
Foi então que Halphy interrompeu:
-Pare meu caro padre. Acho que não é momento para isso agora.
-Ele não é digno nem de pena – soltou irritado Seton – O que me deixa realmente com raiva é que homens como eles juram destruir pessoas como eu, que acredito nos deuses, e quebram suas próprias regras de celibato. E isso para eles deveria ser um voto sagrado. O que eu deixei passar, o que sempre me esqueci, é que esses desgraçados quebram facilmente seus votos. Mas isso era obvio que isso não é tão sagrado para eles. Não duvido nada se ele não foi o motivo da jovem ter morrido.  Ele disse que talvez estivesse grávida, então por acaso vocês não tiveram um caso? Era tão óbvio.
-O que foi que disse Seton? – soltou Halphy, como se tivesse feito a maior descoberta do universo – Repita sua ultima frase.
-É óbvio. Esses degenerados...
E antes que terminasse a frase Halphy saiu correndo, enquanto chamava seu grupo:
-Vamos! De volta à cidade, o mais rápido possível!
-Mas – gritou Lacktum confuso – o que esta acontecendo para agir tão estranhamente agora?
-Era óbvio demais! Venham e explico a vocês no caminho!

Os membros o grupo acompanhavam a jovem ladina, que pouco a pouco explicava sua teoria.
-Como falei era bem óbvio. Nós pegamos os suspeitos e então investigamos os fatos ao redor deles. Só que esquecemos que havia aldeões na cidade, o que demandaria maior tempo de averiguação.
-E o que isso... – iria falar Lacktum quando foi interrompido pela jovem perspicaz.
-A chave nesse caso não esta nas coisas óbvias. Fosse o padre Bernard, ou a tal curandeira, ou até mesmo um dos aldeões, acreditávamos que qualquer um deles poderia ser o causador das desgraças na cidade. O fato é que se você eliminar as coisas óbvias, vai ter o resultado mais correto. O causador de tudo isso não poderia estar entre eles. Alguém que não seria óbvio. Alguém que conseguiria ser ignorado por todos.
Enquanto corriam, as palavras faziam pouco sentido para o pobre Gor, que tentava pensar do mesmo modo que aqueles jovens. Sua cabeça só elaborava planos de batalha quase sempre.
-O mendigo! – soltou com muito espanto pela descoberta, o ruivo inglês – Nunca pensei nele.
-Exato! Eu notei ações suspeitas do mendigo ontem quando chegamos, mas achei que era só cisma, eu pensava... Pelo menos até hoje. E isso explicaria parte de como o fantasma surgia e sumia. Acredito que existe uma passagem secreta na fonte. Lembrando que lugares como igreja possuem espaços assim, deve ser assim que criaram a falsa aparição. Usando esse caminho escondido é possível tudo aqui com um pouco de cuidado. Uma entrada da fonte até a torre.
-Certo. Já que o tal padre Bernard é novo aqui pelo que ele diz, não deveria saber sobre esse caminho. Mas alguém com magia sim.
Todos começavam então a entender, começavam a compreender. O óbvio era tão comum que não faria sentido algum investigar qualquer outra coisa. Isso enganaria qualquer pessoa que fosse averiguar o caso, mesmo que soubesse sobre magia. Só quem possui uma mente sagaz como a de Halphy, entenderia um plano desses.
Mas então, por qual motivo faria isso o tal espectro? Era o que Halphy iria querer saber.
Quando chegaram até a cidade já anoitecia. E Halphy foi direto para a fonte, notando que o tal mendigo não estava lá. Então, prontamente, a ladina começou a bater com a parte de trás de sua besta nas pedras próximas da fonte. Parecia que ela queria ouvir algo, ajoelhada enquanto examinava nas partes da construção.
-O que procura? – perguntou o confuso Thror que havia ficado por ordens de Gor.
Um som oco surgiu então. Foi quando Halphy esboçou um sorriso tão infinito quanto o céu.
-Voi lá.
Falando isso, deixando a besta de lado, ela retirou uma pedra da fonte, fazendo surgir uma pequena passagem. Se não fosse por sua expressão de sagacidade, muitos não notariam que era uma linda moça que fazia tudo aquilo. Ela tinha três amores na vida como gostava de falar: o poder verdadeiro, o controle sobre tudo e a descoberta. Nunca fez as coisas como ladina por dinheiro somente, mas para alcançar mais poder. E descobrir coisas novas fazia parte de suas intenções. O controle viria depois.
-Vamos entrar - ordenou Gor.
Todos consentiram.

Enquanto tudo isso ocorria, Gustavo e Arctus chegaram a vila um pouco antes. Thror nem pensou em falar com eles, pois nunca foi dado a pensar. O padre da igreja não se encontrava, mas a porta estava aberta devido a um grupo de camponeses que temiam o ataque de um suposto fantasma. Quando lá chegaram, os dois ficaram sabendo de tudo e foram ajudar os desamparados. Arctus desconfiava que tal criatura, não passava de uma encenação de alguém com o coração negro. Já Gustavo nem ligava para isso. Ele queria encontrar o suposto ser desencarnado e o eliminar. Seria o mais correto a se fazer. Se ele realmente existisse.
Mas alguns aldeões não queriam saber sobre isso. Praticamente ninguém na aldeia queria encontrar o espírito da jovem que um dia conheceram em vida. Isso ocorria, pois ninguém ali tinha conhecimento sobre o arcano e o espiritual. O que mais compreendiam eram os fatos citados pelo padre em seus sermões nas missas. E nenhum daqueles pobres e aflitos camponeses sabia o que era mana ou magias, na verdade, praticamente acreditavam que coisas como essas eram bruxaria, a Arte das Trevas. Era o poder espiritual da igreja agindo sobre os mais simples.
Arctus era mais do que um dos padres do clero. Ele acreditava que não bastava ser um herói ou mártir. As pessoas necessitavam e precisavam é da verdadeira salvação, mais do que atos corajosos e pessoas se sacrificando sem motivo algum. Eles careciam era de uma mão estendida nos momentos de dificuldade. Especialmente de uma forma religiosa. Pois nem todos na Santa Sé notavam, pensava ele, que a fé se enfraquecia naqueles tempos negros.
E no meio tempo em que os dois prestavam esse auxilio, foi possível ouvir um grito aflito passando pela porta. Ela repetia a mesma coisa:
-Por favor, acudam! Os fantasmas...
-Do que esta falando homem? – disse Gustavo levantando do banco onde estava para tentar apaziguar o nervoso senhor.
O agitado homem parecia ser um simples agricultor. Ele se aproximou do clérigo Arctus exausto e amedrontado. O padre o segurou antes que caísse contra o chão da igreja. O que ele disse foi o que viu.
-O fantasma esta na floresta!
-Não existem essas coisas meu amigo – disse o paladino – e mesmo que possam existir tais coisas, eu eliminaria todas com o corte da minha poderosa lamina.
-Vamos Gustavo – disse o clérigo, irritado com a crendice popular, pensava ele – iremos acabar com isso de uma só vez!
Quando passaram pela porta, puderam notar um estranho movimento próximo da fonte. E então, foi que Arctus e Gustavo pensaram que talvez houvesse algo nesse fantasma de bem peculiar. Talvez não fossem almas penadas, mas sim monstros.

Estavam em um túnel grande e escuro que cheirava muito mal. Mas como aventureiros, apesar de uma boa parte deles inexperientes, eles tinham noção que masmorras tinham esse odor forte.  O real problema era Halphy, que há pouco tempo havia descoberto essa passagem, e agora reclamava sobre o cheiro que ela exalava. Pelo menos era melhor ouvir suas palavras de raiva do que os grunhidos de fome do grego.
Uma luz fraca surgia do final daquele lugar. Quando se aproximavam, era notável que se tratava de uma pequena sala improvisada. Cheia de caixotes uma mesa mal feita. Restos de vela eram vistos em boa parte do lugar, com o fim de iluminar toda aquela escuridão. Nos caixotes havia rações para sobreviver naquele pequeno lugar, enquanto na mesa havia mapas, um manto branco e um colar. Era possível notar que, tanto o manto quanto o colar, continham uma pequena aura mágica. Não era muito claro que funções esses itens tinham, mas Halphy já notou a que região os mapas se referiam.
-Olhe aqui Lacktum... – falou enquanto examinava os mapas – Reconhece essas marcações?
-Nunca entendi de mapas – falou o ruivo.
-Como entendia tão bem de navios? – soltou Gor se lembrando do navio Salva Ventos.
Lacktum olhou com ódio para o inglês. Nunca queria tanto conhecer magias obscuras e poderosas. Como aquelas, que sempre havia ouvido falar seu pai, para nunca se aproximar. Especialmente uma que criava vermes purulentos na barriga. E assim, eles devoravam toda a carne até soltar tudo para fora.
-Parem! Infantilidades depois. Devo disser que esses mapas se referem a uma região do reino de Luis VII. Parece ser uma rota de ataque.
-Como assim? - perguntou Seton.
-Agora que disse, - observou Gor – parece realmente uma rota de ataque para uma batalha... Ou guerra. Mas se isso for do jeito que esta aqui... Haverá um ataque partindo da Inglaterra, para cá! E essa área serviria como um dos pontos a ser conquistado como base.
-Exato! Já sabemos o motivo de nosso fantasma – falou Halphy se mostrando satisfeita com a descoberta – Ele é um espião que quer esvaziar a vila.
Mexendo nos itens Lacktum conseguiu deduzir algo.
-Já sei para o que serve esse manto.
Todos olharam quando Lacktum o colocou em seu corpo. Então o item começou a ter uma aura mística, deixando o mago ruivo em um tom branco pálido. Criava uma aura sinistra que lembrava uma daquelas lendas que citavam espectros. Lacktum, Halphy e Seton então notaram claramente a função do item: criar uma aura fantasmagórica para conseguir assustar os aldeões da vila.
O colar deveria simular uma magia poderosa das chamas, foi o que Halphy constatou.
Depois disso, notaram que de mais um dos túneis que chegavam até aquele lugar, surgiam duas formas humanóides. Lacktum concentrou seu poder mágico, pois já havia ouvido falar sobre esse de ser. Eles tinham um parentesco distante com metamorfos. Havia até lendas sobre pessoas que eram traídas por seus entes queridos, que não eram mais eles mesmos.
-Doppelgangers!

Eram chamados de duplos ou até mesmo metamorfos. Mas seu nome original é doppelgangers. Eles se tornavam, determinada pessoa por um curto período de tempo, destruindo sua vida e desaparecendo. Estes sósias são conhecidos por atormentar seu alvo em reflexos, sombras ou poços d’água antes de sumir. Geralmente, um duplo não luta. Algumas vezes, ele copia as pessoas amadas ou inimigas do seu intento. Seus dons mentais conseguiam obter dados precisos e preciosos de suas vítimas. Suas ambições são sempre um segredo.
Lacktum jogou para longe o manto mágico rapidamente, enquanto corria com as mãos preenchidas contra os inimigos. Com a máscara em sua face, parecia com um demônio que fugiu do Inferno. Normalmente, eram os jovens que tinham que se afastar de qualquer criatura maligna. Mas era possível notar – mesmo estando tão longe como, as criaturas estavam – gritos de fúria da figura do mascarado arcano que surgia perante eles. Tanto que começavam a correr de medo e pavor.
Halphy iria deter o mago, quando notou que do túnel que tinham acessado aquele lugar, outras formas chegavam.
-Acho que estamos cercados – disse Thror se achando muito sábio com essa constatação.
-Não me diga! Qual foi sua primeira pista sobre isso grego? – falou enquanto, olhava para Thror com fúria Gor.
-É! Quem sabe tenha sido pelo de estarmos realmente cercados homem da cicatriz? – disse Seton.
-Parem os três! – disse Halphy nervosa, quando notou, que o mago realmente os havia abandonados para ir atrás das criaturas.
Halphy apontava sua besta, Thror retirava um arco curto que não usava a muito tempo, enquanto os outros apontavam suas respectivas armas de curta distância. Seton deu graças ao Deus e a Deusa por ter deixado sua foice com Thror. Se estivesse com Lacktum estaria em apuros. Todos apontavam para o novo perigo que surgia pelo caminho que tinham trilhado. Não acreditavam serem aldeões, pois eles temeriam descer ali. Foi quando das sombras duas pessoas surgiam.
-Calma lá! Viemos em paz! Pelo que vejo, devem ser quem estávamos procurando. Meu nome é Arctus Zanem e esse que me acompanha é Gustavo de Salles. Podemos conversar?

Quando Lacktum notou, o túnel o havia lançado para a floresta. Parecia que havia três lugares de acesso através daqueles túneis improvisados. Um ficava no centro da cidade, outro na igreja e o ultimo na floresta como um meio de fuga. Mas Lacktum não poderia se perder pensando em como aquilo era interessante. Ele tinha que acabar com aquele ser custasse o que fosse. Por ELES...
A floresta era densa, deixando o lugar com aspecto mórbido. Isso não assustava a ele que corria naquela mata. Foi quando pode notar um dos doppelgangers correndo com maior dificuldade, até cair ao chão. Parecia que havia machucado o pé. Mas poderia ser uma armadilha para pegar o mago. Lacktum seguiu cautelosamente até ele.
Um doppelganger lembra vagamente uma criatura humanóide, só que quase sempre não porta roupas e é extremamente pálido. Suas feições são um arremedo de rosto humano e criam um ar de nojo para quem os vê. Mas hoje nada afetaria o mago.
-Doppelgangers. Ouvimos falar que assumem a forma de quem quiserem. Deve ter sido assim que conseguiam fingir que havia um fantasma na cidade. A tal Annete certo. Com certeza devem ter sido vocês que profanaram seu tumulo para ver qual era a aparência dela e a copiar. Halphy já descobriu boa parte da trama. Que exercito pretendem trazer para cá? – falava isso enquanto alterava a voz – E antes que use qualquer truque contra nós, sabemos que não possui o dom de ler nossa mente e espírito, então não pode saber o que pensamos ou sentimos. Assim não vai tomar a forma de algum ente querido nosso... Esse é um dos seus principais truques não é? Usar a imagem de alguém querido como escudo, não é? Não é?
-Não preciso disso com você Lacktum Van Kristen.
-Como sabe nosso nome?
-Sei até que não possui um ente sequer vivo. Nosso mestre o conhece bem arcano, e nos preveniu sobre sua intromissão.
-Seu mestre? Quem é ele? O que quer realmente do grupo e de nós?
-Quer que você sofra! – então a criatura soltou risos maliciosos e histéricos. E nesse mesmo momento, com a mão protegida pela luva Lacktum tocou a face da criatura com força para estourá-la.
-Você irá mandar um recado ao seu mestre.
A criatura riu do mago.
-Sem me perguntar mais nada? Nem parece ser o jovem arcano sagaz que o mestre citou.
-Eu não sou Lacktum e isso não vai ser rápido.
A criatura, mesmo não possuindo uma face humana, esboçou medo como nenhum outro ser naquelas terras. A luva então soltou uma aura negra de necroplasma. Ela entrou diretamente pelos olhos bizarros da criatura. Foi quando a criatura soltou um imenso grito de dor, pavor, medo, pânico, desespero, maldição contra a própria vida e tristeza. Muitos teriam pena daquela criatura.
Todos estavam fora daquela caverna. Arctus começou a falar os motivos de estarem ali, na praça. Ele disse que veio a mando da Santa Sé, pois soube que um temível ser estava prestes a despertar. O papa com medo que isso realmente interferisse nas cruzadas mandou alguns agentes religiosos para saber o que ocorreu para que a criatura despertasse nesse tempo. Foi então descoberto, que nos últimos meses, um grupo de aventureiros estaria atrás de artefatos antigos que selariam um inimigo ancestral. Eram formados por guerreiros, bruxos, elfos, druidas e uma ladina. Um dos membros desse grupo era irmão de seu amigo Gustavo, e como ele um guerreiro sagrado, apesar de acreditar em outra fé. Ao que parece, outro grupo secretamente trazia problemas a eles, pois serviam a esse monstro. Isso acontecia, pois também buscavam os itens que selariam seu sinistro mestre, claramente para que isso não se realizasse. Então, Arctus e Gustavo partiram para essa cidade, pois dados confiáveis diziam que seria o próximo ponto ao qual o grupo de aventureiros poderia chegar devido aos artefatos.
Muitos no grupo estranhavam as atitudes de Arctus. Ele não parecia com os outros padres, que só não os ofendiam ou atacavam, pois precisavam de suas habilidades únicas. Ele ainda parecia tão intolerante em relação outras religiões, mas era bem parecido com alguém que queria saber o que aconteceu até então. Boa parte do grupo acreditou em suas palavras, mesmo que já tivessem diversos problemas com padres.
Gor e Halphy decidiram então que deveriam sondar aqueles homens de qualquer jeito. Quando isso ocorreu, falaram com Gustavo e Arctus particularmente e notaram que por enquanto poderiam ser aliados dignos. Eles lhes contaram boa parte do que sabiam... Mas não tudo. E também, o druida não possuía magia de cura o suficiente depois de ter tratado boa parte da vila. Havia muitas pessoas necessitadas ali. Nesse caso, um tipo de aliado especializado nessa arte seria o ideal.
Thror temeu um pouco, pois achava que Gustavo poderia ter ressentimento com o que houve. Foi quando Gustavo começou a falar:
-Soube que meu irmão poderia estar entre vocês. Ele esta com vocês? Seu nome é Federick.
Nesse momento os olhos se encheram de lagrimas em alguns dos aventureiros. Gor se agachou como se fosse um enorme peso que sentisse em sua alma. Seton e Thror abaixavam as mãos e cabeças em sinal de tristeza. Halphy chegou até Gustavo como se fosse anunciar algo terrível. Nesse momento, o paladino segurou a mão da jovem e sem soltar lágrima alguma, falou o que seu coração já tinha certeza:
-Ele morreu não é?

Eles deixaram de lado o que ocorreu com Federick por pedido do próprio Gustavo. A segurança de pessoas inocentes falava mais alto. E do jeito que as coisas estavam caminhando, não somente a vila estava em perigo, como todo mundo conhecido.
-Seja lá o que planejem, a meta deles é atravessar esse reino – disse certa disso Halphy.
-Posso ver o mapa – pediu Arctus a ladina, que entregou os pergaminhos.
Arctus viu atentamente o mapa e notou algo.
-Sei qual é a verdadeira meta deles se estiverem com um exercito – disso sem alterar seu tom de voz o padre, mesmo notando o quão terrível era aquilo – Acredito que querem chegar às terras do Vaticano.
-Pode ser – disse Halphy pensativa.
-Isso tem sentido – Gor falou, como se lembrasse de algo – James me disse que uma ordem de secreta da Santa Sé se apoderou de diversas relíquias, quando paramos de atuar como aventureiros.
-Nunca ouvi falar de uma ordem secreta – soltou Halphy curiosa – nem mesmo sobre seu amigo James.
-Um dia lhes conto. Mas voltando a falar sobre isso... As relíquias são levadas para um lugar seguro e são de todos os tipos de lugares e poderes. Desde itens asgardianos e olímpicos, aos católicos. Elas foram levadas para perto do homem que herdou o trono de São Pedro. Mas em segredo.
-Inglês, - soltou Arctus com raiva – quer sugerir que a Santa Sé esconde algo?
-Espere amigo! – pediu Gustavo que notava que o padre iria sacar sua arma, uma maça. Realmente Arctus não era um sacerdote convencional.
-Bem – continuou Gor – Seja lá o que for não é o conjunto do Desalmado, nem do Cavaleiro de Platina. Já que o Oráculo nos disse onde estão cada um deles. Razoavelmente...
Os membros do grupo concordaram com Gor, enquanto Arctus e Gustavo olhavam com ar de reprovação. Mas já sabiam o que deviam fazer.
-Acho que teremos que acompanhar vocês, - falou calmamente Gustavo – até tudo se acertar. Se não incomodar ao grupo.
-Por mim tudo bem – soltou Thror.
-É acho que concordamos – falou Halphy parecendo saber que o tal Arctus tinha poderes verdadeiros – Só precisamos encontrar o Lacktum e ver se ele pegou uma daquelas criaturas. E ir atrás dos artefatos restantes. Mas onde aquele ruivo se meteu?

Ele havia matado o doppelganger, mas por algum motivo, não se sentiu nenhum prazer naquele gesto. Não entendeu o motivo de tudo aquilo. Qual o motivo de se referir a si mesmo como mais de uma pessoa? E como os outros reagiriam se soubesse que talvez estivesse enlouquecendo? E qual o motivo de se preocupar com eles? Mas a única palavra que o mago inglês proferiu foi:
-Nós...

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