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5 de jul. de 2011

Contos do Tempo Perdido: Livro dois - Preto e Branco

Esse é mais um capítulo do meu livro ^^ Bom divertimento!
Capítulo Seis: Morto ou Vivo
            Depois das revelações e segredos que surgiram naquela aldeia francesa, o grupo recomeçou sua viagem. Não sabiam como se sentiam, mas acreditavam que estavam no caminho correto. E especialmente já possuíam um nome para definir como inimigo: Mallmor.
            As especificações de Azerov eram as de chegar ao templo seguindo uma área florestal. Após isso, haveria ume pequena colina que em seu interior teria uma construção com ares do tempo de Carlos Magno. Mas ao invés das imagens de vários reis ou imperadores existiam figuras de dragões. Estavam para chegar a frente do templo de Ixxanon.
            Ainda era difícil ver mais detalhes, enquanto subiam a colina, mas já se via algumas figuras de gárgula em seu teto. Porém enquanto contornavam alguns rochedos, notavam que as “gárgulas” não eram o que achavam. Notaram isso quando perceberam as asas se agitando em direção ao céu. Eram criaturas das trevas, eles tinham certeza.
             Foi quando Gustavo sacou sua espada e gritou:
            - Harpias! Se preparem!
            Mas foi inútil, o que Gustavo só notou pouco depois. Todos pareciam encantados com um som que era audível para ele agora. Era um truque tão básico e ele não notou. Por Deus, ao menos ele tinha notado e vencido o encantamento musical.
            Enquanto uma cantava, a outra preparava o bote. Essa olhava o alvo mais aberto, mais fácil de devorar. Foi então que ela notou o mago inglês, sua pele clara e seus cabelos vermelhos como chamariz. Seria ele o alvo do ataque.
            Foi então que demônio alado notou que entre os que ali estavam, havia um que não tinha sido encantado. Ela mudou seu alvo por esse fato. Gustavo seria sua nova presa.
            Acontece o salto. Ele só serviu de impulso para que a harpia pudesse tomar a altitude suficiente para um ataque fulminante. Quando tomou ciência da distância fez seu vôo rasante. As garras apontadas para frente, asas estufadas com o vento, a pele reptiliana preparada para sacia sua fome pela carne humana. O jovem seria um alvo fácil demais.
            Gustavo estava só. Seus amigos só estavam ali em corpo, pois seus espíritos foram ludibriados pela música da mulher monstro. Deus protegeu os ouvidos de Gustavo contra os poderes de sedução do mal. Porém, ele estava sozinho naquele momento. Foi então que ele repetiu uma das frases de Arctus:
            - Quem esta com Deus, nunca esta só.
            Nesse momento, notou a besta de mão de Halphy. E viu o sinal que Deus lhe deu.
            Gustavo pegou a arma de sua companheira, num relance de momento. Então apontou para a criatura que surgia na sua frente. Isso, com os olhos cheios de fúria.
            - Isso não irá me matar tão facilmente! – gritou a harpia.
            - Ainda bem, - disse o paladino com vontade – pois você não é o meu alvo.
            Foi quando o virote gritou no ar, atravessando o céu da tarde. A harpia se espantou quando notou que a seta não vinha em sua direção, mas na de sua companheira. Ela deixou, desprotegida, o único motivo de sua tática ter dado certo até então.
            Então a harpia que estava no templo gritou pela dor. Um grito de morte. O golpe foi fulminante. A harpia guerreira se encheu de fúria com isso.
            As garras estavam próximas do paladino. A harpia só estava a uma curta distância do guerreiro sagrado. Com a fúria da morte de sua companheira, a harpia atacou sem pensar. E quando pensou que teria enfim, o sangue do inimigo, sentiu uma lâmina atravessando a pele e uma estranha sensação de dor em seu peito.
            Gustavo olhou para trás e viu que seus pensamentos e planos estavam certos. Notou Lacktum com sua mão estendida, com um brilho intenso e Halphy abaixada, como se acabasse de lançar algo. Ele sairam do encantamento.
            - Perdemos algo? – soltou Lacktum confiante.
            - Essa besta de mão é minha, Gustavo! Eu sou a ladina do grupo, esqueceu? E perdi mais uma faca...

            O grego mal sabia o que havia acontecido, mas tinha completa noção que o perigo estava a sua frente. Ele havia perdido a vida de um Salles, não iria deixar isso ocorrer novamente. A espada do Greco saltou sobre a harpia, acertando ela na perna.
            A criatura gritou com a dor. Mas não se deixou vencer como a outra. Ao cair, ela rolou em direção a Lacktum. Com essa deixa, o mago foi acertado pelas garras da harpia. O sangue jorrou do seu peito com muita força num jato só.
            Nesse momento, Seton com sua foice, pulou em direção a inimiga. O golpe foi bom, mas não foi perfeito. Ela continuava de pé apesar dos ataques seguidos do grupo.
            Vários golpes foram desferidos de praticamente todos.
            Ela então agarrou o mago, como um amante, segura outro. Mas o que arrancava do jovem mago, não eram beijos ou carícias. Era um enorme jato de sangue que vazava do pescoço do inglês. O mago gritou. A dor parecia vir do fundo da alma do ferido.
            Quando ela acabou seu ataque, Gustavo aproveitou a chance. Deixou a arma de Halphy no chão, enquanto sacava sua espada longa e proferia palavras sagradas:
            - Que Deus preencha essa lamina com seu poder, para eliminar todo mal do demônio que surge a minha frente!
            Foi então que com as duas mãos na arma, o paladino criou um brilho azulado na lâmina que cortou o ar na horizontal. A lâmina cortou o corpo da harpia com extrema facilidade. Ela tombou aos pés do mago. Thror a trespassou para garantir a morte da criatura. As asas cobriam seu corpo enquanto definhava diante dos aventureiros.
            - Por Deus! Que bom que despertaram! Se não fosse por vocês...
            - Se não fosse por você, - começou Thror – estaríamos todos mortos. Você realmente é um Salles.
            Gustavo soltou um sorriso de satisfação, enquanto Halphy reclamava sobre a arma.
            - Salles nada! Nunca mais roube minha arma!
            - Como você mesmo diria, – disse o paladino sorridente – só emprestei sua arma por tempo indeterminado.
            Todos começaram a rir, inclusive a emburrada Halphy. Exceto Lacktum.

            O templo não era mais o que foi em eras passadas. Ao que parece, todo o lugar emanava uma grande quantidade de mana. Hoje, ao entrarem, no entanto, era possível sentir que a magia do lugar esta quebrada ou partida. Todo o lugar não emanava a magnificência de antes, emanava sim era terror, trazido pelas marcas de garras na parede até mesmo no teto. Já o chão era tingido com resquícios de sangue por toda a parte. Ao que parecia, o templo só tinha a entrada principal, que continha uma imensa estátua de Ixxanon, e alguma passagem subterrânea.
            A estátua tinha perdido muito de sua formosura original. O que ainda não tirava toda a glória dos tempos antigos. Havia duas estátuas no lugar. Uma parecia com um jovem elfo, nobre e poderoso que possuía um manto de mago cheio de runas. Já a outra, representava um poderoso dragão com olhar de sábio e uma barba tão grande quanto suas asas. Ambas estavam em poses que demonstravam poder. Dignas de um único e grandioso deus.
            Abaixo da estátua, coberto por algumas folhas mortas estava escrito:
Ixxanon, Um dos Três Brilhos de Ísis
Portador da Chama Divina Dourada
Senhor de Todos os Dragões Leais
Protetor de Todos os Homens que Trilham o Caminho dos Justos e Corretos
O Deus que Não Será Esquecido
            - Um dos livros que pegamos fala sobre um “tal” de Ixxanon – comentou Lacktum – Deve se tratar dele.
            - Os livros na tumba dos Imortais? Mas ele não era um dragão pelo que havia comentado? Os tolos daqui, – disse rindo Thror – adoravam um ser que não era deus de verdade. Mais parecem um bando de católicos, isso sim.
            Lacktum levantou rapidamente de seu exame das escritas. A máscara não escondia a fúria.
            - Ele ascendeu seu verme inútil! Ele possuía magia e poderes suficientes para isso! Coisas que você nunca teria!
            - Me perdoe Lacktum...
            - Não me interrompa! – e continuou – Sabe qual o motivo de você nunca obter isso?
            - Pare com isso mago – advertiu Gor.
            - O motivo é que não há a possibilidade que concedam poderes para criaturas tão inúteis que deixam seus amigos morrerem por brigas tolas!
            O assunto Federick estava de volta á tona. Todos haviam concordado em não tocar sobre o assunto até que o próprio Gustavo quisesse saber. Lacktum quebrou o acordo.
            Thror parecia desorientado. Começou a olhar o chão como se não soubesse onde olhar. Foi então que fitou friamente Lacktum. Um olhar que Gor conhecia, pois parecia com o do inicio de um combate. Então Thror soltou:
            - E aqueles que não fazem nada para impedir?
            - Mas do que...
            - Me diga: eles concedem poderes aos que não fazem nada para impedir essas brigas tolas? Pois se for assim esses não são deuses que irei seguir.
            Lacktum se sentiu acuado. Ele esperava esse tratamento de Halphy, ou no máximo de Gor, mas nunca de Thror. Ele se calou e continuou andar pelos bancos quebrados e amontoados do templo. Sua moral havia diminuído drasticamente.
            Thror olhou para Gustavo. Seus olhos tinham um grande pesar.
            - Me perdoe, - falou o guerreiro com grande pesar ao se lembrar do fato – mas o que Lacktum disse é verdade. Nós havíamos brigado pouco antes de...
            - Me diga Thror, - interrompeu o paladino – ele morreu enfrentando você ou o mal?
            - Logicamente foi o mal.
            - Então, não se envergonhe. Pois ele morreu como todo paladino deve morrer.

            Passaram o altar, sem pressa examinando cada canto. Acharam algumas moedas, todas de ouro. Algumas, comemorativas. Seriam bem usadas mais tarde.
            E então, encontraram a passagem subterrânea. Era grande e havia uma escada em caracol, toda feita de aço. Exalava cheiro de carniça. Varias marcas de sangue em seu percurso.
            Gor então falou:
            - Eu vou primeiro.
            Todos assentiram. Halphy foi em seguida. Boa parte do grupo desceu as escadas, sendo os últimos Thror e Lacktum.
            Quando lá chegaram viram, o que deveria ser os aposentos dos sacerdotes no templo. Uma área muito ampla e que tinha muitas camas. Todas simples e cheias de poeira. Cada uma possuía um pequeno baú do lado esquerdo. Dentro deles, não havia nada de valor, só documentos sem importância. Havia até mesmo alguns diários, mas muito antigos e destruídos.
            Foi quando Gor falou:
            - É melhor pararmos para repousar. Assim, Lacktum e o sacerdote Arctus poderiam recuperar suas magias.
            - Ei! – disse revoltado o druida – Eu também preciso recuperar minhas magias também.
            Halphy olhou emburrada para Seton.
            - Você nem gastou magias hoje, seu chorão!
            Quando Seton falou isso, todos riram da frase. Exceto Lacktum, que não via nenhuma frase engraçada naquilo.
            Afinal de que riam todos? Qual o motivo de tanta alegria? De onde surgia todo o amor um pelo outro? O que a amizade criou entre eles, que fazia surgir naquele grupo uma força unica? Uma força que os fazia esquecer a raiva que sentiam, um pelo outro, para enfrentar o mal. Em alguns momentos, - raros momentos – aquele grupo que nem sempre esteve completo, parecia uma família. Uma família que o jovem Lacktum perdeu por um arcano, sem um nome ou um rosto, ao qual pudesse culpar. Foi algo que ele perdeu.
Não se esqueça de sua raiva
            A voz voltou. Lacktum estava arrumando seu canto para dormir, como todos os outros quando escutou a voz que vinha da máscara. Aquela coisa só lhe causou dor até agora. Ele queria se vingar, e através daquilo, alcançaria esse desejo. Mas... Havia momentos que a vingança não fazia sentido. E então, antes de Lacktum dormir ele ouviu a voz do Desalmado.
Eles não sentiram o que você sentiu Eu sei Confie em mim Venha até mim
          -Me deixe em paz – disse Lacktum, chorava de dor. E enquanto chorava adormeceu.

            O mundo dos sonhos. Um lugar onde todos gostariam de viver. Aonde a realidade não encontra limites. Ao menos é o que a maioria pensa. Lacktum sabia que não era assim.
            Todo o lugar era escuro. E criava medo. Muito medo. Porém não foi isso que o fez se espantar. Na verdade, foi um estranho brilho dourado que ficava no alto da escuridão que o fez se assustar. E acreditar novamente.
            - Lacktum... Largue essa máscara, antes que seja tarde demais.
            Ele sabia que aquilo vinha da luz. Era reconfortante e aquecedora. O que fazia a máscara ficar mais e mais pesada. Como se fosse um imenso mal.
            - Eu não sei quem é, - falou Lacktum, colocando a mão no rosto para se proteger da luz – mas não é tão fácil. Isso me traz poder. Mas fico fraco quando se refere a retirar a máscara. Ela me drena, ela me suga.
            - É lógico. Pois a mascara de controla. Você a deixou fazer isso com você. E só o motivo do Desalmado estar incorporado nela, não significa que você não possa controlar ela. Mas não agora, pois não precisa dela. E este é o momento em que deve decidir, se sua vingança importa mais do que o controle sobre o seu destino. Essa decisão é unicamente sua. Nunca de uma “máscara” com estranhos poderes.
            - Quem é você? E que motivo teria para isso? Para me ajudar?
            A “luz” se calou. Mas logo continuou:
            - Você tem que perguntar a si mesmo, se ainda quer um lugar ao céu, ou não. Você quer?
             De repente, Lacktum sentiu seu coração disparar. Um momento do passado surgia em sua mente. O cheiro de flores colhidas. Assim como o negro de um cabelo, tocado pelo vento. E os chifrinhos no cabelo, tão lindos...
            - Parece tão fácil quando se fala.
            E o som ficou mais forte, assim como a força da luz. O que fez com que Lacktum arregalasse os olhos.
            - É fácil para aqueles que controlam seu destino.
            Foi então que Lacktum pousou a mão sobre a máscara. Ele começou a puxar a maldita máscara. Ele iria retirar a desgraçada, nem que arrancasse pedaços da pele. E não ligava para a dor. Ele queria seu lugar ao céu.
            - Argh! Saia!
Ninguém te entende como eu A fúria quando tudo ocorreu...
            - Vai! Solta! – enquanto a máscara agarrava seu rosto como uma criança que quer voltar a barriga de sua mãe ao nascer.
Você me quer Sou o único... Te trouxe paz
            “Será que valeria a pena”, pensou Lacktum,”largar mão de tanto poder?”. Era só uma voz. E seria só mais uma que traria dor.
Você não quer se vingar? Enfrentar seu nêmesis?
            Foi então que Lacktum parou. O seu mundo onírico de sonhos parou. Ele tocou máscara com certo carinho
            - Eu vou me vingar. Não você.
            Nesse momento ele voltou a puxar o item de carne humana. A máscara saltou do rosto de Lacktum. Era como se ele voltasse a respirar. Pausadamente, mas voltou.
            Lacktum despertou, acreditando que tudo era fruto de sua mente. A máscara. Ela estava no chão, onde todos podiam ver. O rosto não seria mais marcado por aquele monstro.
            O mago pegou a máscara. Ele não podia deixar ali, onde qualquer um poderia encontrar. Mas foi então que ele notou que a máscara voltou a se tornar atraente. Era o Desalmado agindo novamente.
            Mesmo assim, ele enfiou o item entre seus pertences na mochila. Ele tirou forças de sua arrogância e a máscara não estava mais a vista.
            O Desalmado perdeu essa batalha. A máscara não seria usada por ninguém, e o mago ruivo faria o que fosse possível para enfrentar os inimigos que a queriam, enquanto não alcançasse sua vingança. Entretanto nunca mais perderia o controle por isso.
            Enquanto despertava, e se recuperava do susto, ele não notou que Halphy também tinha acordado e viu a estranha cena. Ela não viu quando a máscara caiu do rosto de Lacktum, mas sabia que continuava tentada pela máscara. Ela mantinha um olhar felino e cheio de malícia.

            Todos se preparavam. Gor, Thror e Gustavo vestiam suas armaduras. Já Seton e Arctus rezavam para suas respectivas divindades, com o objetivo de obter seus poderes diários. Halphy preparava seus equipamentos, e lembrava algumas magias que começou a aprender com Azerov, enquanto despertava seus dons latentes. E por ultimo, Lacktum decorava magias de seu grimório, com muita calma. E sem a máscara.
            Ninguém entendeu como Lacktum tirou a máscara, nem o motivo disso, mas deram graças as suas respectivas divindades. O mago parecia alguns anos mais jovens. E um pouco tonto. Era a máscara que o tornava tão intimidador. Porém, ele agora era só o ruivo e chato mago. Mas não se importavam com isso. Um companheiro de nome Lacktum voltou às fileiras do grupo. Nada de raiva na voz, só arrogância no máximo. “Era sua marca mesmo”, todos pensavam. E ela voltou com o jeito único do mago de auxiliar os outros sempre cobrando algo em troca.
            Quando todos estavam prontos para continuar o caminho, – que foi verificado razoavelmente por Halphy como batedora que examinou mais a frente e viu que não havia escadas – foi ouvido um enorme rugido. O som continha muita fúria e poder. Não parecia humano, no entanto, era audível algo próximo disso na voz. Era como se beirasse o bestial o bárbaro, ao mesmo tempo.
            Foi quando notaram no canto dos aposentos, a porta ampla que Halphy teria examinado antes. O cansaço os impediu de notar aquela área corretamente na noite anterior. Mas era impossível não notar agora, mesmo que ela se confundisse com parede. Isso ocorria, pois a porta tremia com uma imensa força. E não foi mais um rugido. Eram passos pesados e terríveis, que provocavam um tremendo estrondo.
            Quando se preparavam com suas respectivas armas ou magias, eis que as portas são estouradas como dois gravetos de madeira. Thror se agachou, enquanto a porta direita voava por cima de sua cabeça. Já a esguia e ágil, Halphy, puxou de lado o recente companheiro. A cena ficou um tanto constrangedora para ambos, pois, a meio-sidhe caiu por cima do paladino, mas logo se levantaram. Os pedaços dessa porta saltaram como enormes setas, que se fixaram na parede. Era possível notar enormes setas, que se fixaram na parede. Era possível notar que essas setas eram na verdadade enormes espinhos que quase atingiram Gor e Lacktum, se não fosse a imprecisão do inimigo misterioso.
            Eis que da porta surge duas harpias, protegidas por um arremedo de armadura. Cada uma portava um pequeno arco que deixavam apontados para os aventureiros. Com toda a certeza, devem ter visto a luta com as outras lá fora e se prepararam.
            Foi então, que entre elas, surgia da abertura da porta, uma criatura leonina com rosto levemente humano. Seu rosto mostrava alguns dentes protuberantes. Já suas patas, pareciam fazer eco em toda área dos aposentos. A criatura era quadrúpede e muito ágil para seu tamanho. Foi notável isso pelo salto que deu até a sala. E sua cauda era repleta de espinhos que quebraram parte do arco da porta. Por ultimo, tinham asas negras, coriáceas, parecidas com morcego. Era grande o bastante para cobrir um homem adulto.
            Lacktum então notou que a criatura era uma perigosa mantícora, besta mágica astuta e maligna que se alimentava de seres humanos na antiguidade. Elas eram tolas, mas também terríveis em combate.
            - O que vocês pensam estar fazendo aqui? Esse é meu território. Minhas regras são: sem humanos. Só como carne.
            -Desculpe, mas viemos aqui por um artefato e não partiremos daqui sem ele – falou Starten.
            - Vai, - fala irritada Halphy com o druida – fale também o motivo de estarmos atrás desse item! Aproveita e entrega sua foice pra ele.
            - Ih! Desculpa...
            - Fica quieto, - resmungou Thror, furioso – druida burro!
            - Ora seu... – começou o homem da foice.
            - Fiquem calados, humanos idiotas! Vocês duas, - vociferou a mantícora para as duas harpias – subam e comecem o ataque! Vamos ter carne humana para o almoço.
            - Hoje não criatura – e com esse grito, Lacktum soltou dardos de pura energia no peito da criatura.
            No mesmo instante, as duas harpias saltaram ao teto. As flechas apontavam para os mais fracos fisicamente, ou seja, Halphy e Lacktum. Foi então que as setas de seus arcos cruzaram o ar.
            Uma delas atingiu Halphy no peito. Ela gritou pelo golpe certeiro. Já o jovem tinha bloqueado o golpe com um escudo de pura energia. Ele se zangou com a situação inesperada.
            A mantícora investiu contra Lacktum. Porém, Thror interrompe o caminho da fera com sua espada longa. Ele faz um corte próximo ao pescoço, mas não foi certeiro.
            Gustavo aproveitou para flanquear com o grego. Acertou as asas, que a criatura usava como escudo. Ainda assim, não foi suficiente para acabar com ela. A maldita resistia bem aos golpes.
            Já as harpias, se aproveitavam do ar como um manto. Halphy e Lacktum usavam suas bestas, assim não precisariam gasta gastar suas magias. Mas isso não era o bastante para fazer as duas cair.
            Foi quando uma pequena pedra voou pelo teto como se fosse flecha, disparada por Arctus. Primeiro, achavam que eram meras pedras, mas viram então que o sacerdote as preencheu com magia divina. As pedras machucavam demais, era notável nas harpias a dor que sentiam. O clérigo era forte.
            Em contrapartida, a mantícora estava cercada por Thror, Gustavo e até Seton. Foi quando ela mordeu o paladino. Ele ainda não havia sido curado do dia anterior e tinha marcas por todo o corpo. O que fez o grego golpear com fúria, a criatura com corpo leonino e asas de morcego. Foi um golpe certeiro, tanto que abalou a confiança da criatura.
            A batalha estava desequilibrada completamente para o grupo de aventureiros. O fato é que cada lado era extremamente ferido. Halphy, Lacktum, Gustavo e Thror levavam golpes terríveis das garras e flechas, o que só se agravava com os espinhos lançados pela mantícora. Já Arctus e Seton, se tornavam naquele campo de batalha, um fator de salvação, sempre curando e protegendo o quanto podiam. Especialmente o padre, que se especializou em magias de cura poderosas.
            As harpias feriam cada vez mais o mago e a ladina feiticeira. Só que apesar de muito ferida, Halphy se mantinha agachada pelos acertos das flechas. Foi então que Lacktum se colocou na frente da amiga. Enquanto isso, Halphy colocava uma nova seta de virote em sua besta. Então ela levantou, com a arma em punho e apontou para a criatura alada.
            - Lacktum, abaixa agora!
            Quando o mago fez isso, só viu zunir um virote enquanto baixava o corpo. O virote acertou o peito da harpia, fazendo ela se desequilibrar no ar. Ela até tentou continuar em pleno vôo, mas os golpes sofridos pelas magias de Arctus e Lacktum, e pelos projeteis de Halphy, a fizeram enfraquecer e cair.
            Ao cair Arctus aproveitou a deixa para golpear a harpia com sua maça. A criatura agonizou com o golpe desferido pelo padre.
            A outra continuava a apontar para o mago, sem se abalar com a queda da companheira. Sua flecha parecia preparada para acertar o ombro do mago, mas não foi isso que ocorreu. Ela cortou parte da roupa do jovem inglês sem o ferir.
            Enquanto isso, Thror media forças contra a mantícora. Ele colocou a espada entre ele e a criatura, com a finalidade de impedir o avanço das presas e garras da mesma. Ela era grande, tão grande quanto o lobo que enfrentaram depois de encontrarem o Oráculo de Delfos. Thror já sabia o truque para se enfrentar criaturas maiores. Nunca sair de sua área de ameaça e se manter preparado para algum plano traiçoeiro, era o plano perfeito, naquele caso. Mas a mantícora era diferente. Podia uma só vez. Ele tinha que tornar cuidado com as garras, presas e uma cauda recheada de espinhos.
            Em um momento de distração, a cauda da criatura estalou soltando espinhos no peito do guerreiro. O golpe foi perfeito, enfraquecendo Thror e lançando ele ao chão. Ele não gemeu de dor, mas já sabiam que não agüentaria um próximo golpe. Era um instante extremamente crítico.
            Seton usou suas poucas magias de cura e Arctus não poderia sair dos garotos que geravam magias arcanas. Eram fracos e não agüentariam novos golpes.
            Foi então que Halphy começava a conjurar uma magia de pequenas setas com energia. Entrelaçava as mãos como um experiente mago. Lacktum entendeu que ela deveria ter sido ensinada por Azerov para lançar feitiços, sua herança de sangue élfico, na torre.
-C'est créer une flèche magique. Aussi puissant comme une flèche.
De repente, suas mão estavam cheias de energia que soltou prontamente na asa da harpia. Ela caiu na frente de Lacktum.
Foi então que a criatura com asas coriaceas preparou um ataque contra o mago. Esse por sua vez sacou sua arma de família, a adaga Van Kristen. Usou a adaga para tentar acertar o pescoço, mas o que conseguiu foi um golpe no braço. O mago ficou tão zangado que praguejou no mesmo instante.
A criatura tentou um novo golpe, mas Lacktum se afastou no mesmo instante que ela avançou. No momento seguinte, Halphy atacaou com um virote nas costas do monstro. O corte enorme, estava entre as asas que começaram a encolher rapidamente. O arco estava longe agora. Ela tentava se manter firme e o alcançar, mas era tarde. O mago enfim acertou o golpe na garganta da mulher alada.
Só sobrou a mantícora no campo de batalha. Essa era forte e firme no no combate. Não parecia um monstro ou uma besta e sim demônio da guerra, um ser sem amor ou compaixão que destroçava todos os inimigos na sua frente. O que fazia com que todos soubessem que o demônio em forma de besta não iria cair tão facilmente.
Ela pulou em cima do grego para se defender dos ataques. As mordidas se aproximavam do rosto cada vez mais. A saliva enchia a face dele. Houve então uma lamina que cruzou o ar em direção as costas da criatura. Ela urrou pela dor que sentiu. Gustavo e seus cabelos negros chegaram em seu auxílio. Havia subido na criatura para acabar de vez com aquilo.
-Não adianta paladino, - continuou a urrar o monstro com raiva – eu irei perseverar e devorar cada um de vocês !
- Isso não vai acontecer hoje monstro ! – exclamou o guerreiro sagrado.
-Como tem tanta certeza disso ?
-Gustavo... Não estou... Aguentando...  – gemeu o quase moribundo Thror.
 -Olhe para frente demônio ! – foi então que o mago surgiu quase que por encanto. Suas mãos se enchiam do mana do templo. Ele estendeu os braços para trás em seguida, os colocou na sua frente com as palmas a mostra para acionar a magia. Entre as duas, se criou um pequeno tufão de chamas se criou, surgindo um leque enorme das mesmas sobre o rosto do monstro. Esse ficou cego pelo golpe.
Gustavo já tinha saltado das costas, quando a mantícora cambaleava e caiu em cima do jovem grego. Ele arfou, mas logo em seguida não agüentou as feridas do seu corpo. Morreu. E sangrou tanto que cobriu boa parte do chão daquele aposento no templo, fruto do corte do guerreiro sagrado. Todos observavam o monstro caído no chão.
Foi quando debaixo da criatura surgiu uma fina voz pedindo auxilio.
-Me ajudem... O cheiro dela... Pele queimada... E sangue podre... Ergh!
Todos riram da situação, enquanto Gustavo retirava a espada das costas do monstro, que momentos antes os fez ficar em pânico. Inclusive, um tímido e contido mago.

Eles limparam as armas e curaram os feridos. Estavam exaustos, portanto, mandaram a ladina feiticeira Halphy, como batedora. Ela voltou falando sobre alguns itens e uma cela com um estranho prisioneiro. O homem possuía mantos como as antigas túnicas gregas, dizia a ladina.
Após alguns acertos e conversas, todos sentiram que era necessário ir até o andar inferior.
Viram que não havia escadas, então improvisaram uma corda para descer o buraco que descobriram. Não havia nada ali de grande importância, só o enorme buraco na sala adjacente ao confronto que se estendia como um túnel subterrâneo, não muito longo, pelo que disse Halphy. Parecia que ali iria ser colocada uma escadaria, mas não houve tempo. Os monstros deveriam ter se apoderado daquele lugar, pouco depois que os sacerdotes abandonaram com medo do ataque dos fiéis católicos.
Quando desciam as cordas, reparavam várias ossadas humanas. Quase todas de clérigos ou de aventureiros incautos. Eles poderiam ser os próximos, se não tivessem sido um grupo firme.
Viram um corredor de pedra mal feito em que era possível ver, ao fundo, a tal cela. Era feita de aço enferrujado, e se não fosse pelo estado lamentável do homem dentro dela, ele mesmo poderia fugir sem problemas. O lugar fedia a carniça pelos restos de outros incautos aventureiros.
Foi quando Gor e Thror quebraram a porta da cela. O prisioneiro desmaiado despertou em um salto, pelo medo. Os dois guerreiros olharam para o pobre guerreiro no chão com uma grande atenção. Estava muito ferido no peito e sangrava na perna. Parecia completamente exausto pelo rosto e pelo corpo fragilizado.
Apesar de tudo, o rosto do rapaz era jovial e cheio de ternura. Ele tinha cabelos loiros, todos voltados para trás, deixando o aspecto do desconhecido, meio selvagem. Ele tinha mantos simples, mas que lembravam um feiticeiro. Isso explicava o físico reduzido do rapaz. Além disso, usava um brinco de ouro que emanava magia. Isso era claro.
Arctus e Lacktum cruzaram a cela em direção ao ferido. Já Thror, foi direto a uma pilha de itens que ficava ao lado do estranho ferido. O sacerdote fez os primeiros socorros no tal feiticeiro. Já o inglês olhava o mesmo com curiosidade. Parecia conhecer ele de algum lugar distante. Parecia conhecer ele de algum lugar distante. Para ser correto não era á distância, ou o tempo que o incomodava para saber de onde se lembrava dele... Era como se o conhecesse de um sonho.
-Meu nome é Nico.

Revistaram os itens e entre eles, haviam alguns deles que serviriam para o grupo. Havia uma tiara que aumentava o intelecto, isso foi o que constatou mais tarde o mago. Outro item era uma adaga com brilho prateado que parecia ter um balanço perfeito para atacar. O primeiro dos objetos foi parar na cabeça de Lacktum, enquanto o segundo nas mãos de Halphy. Mas foi Thror que obteve um dos itens, ao qual, todos procuravam: o escudo da Pele do Dragão de Platina, um dos dois conjuntos.
Foi quando os espólios estavam sendo divididos, que Lacktum notou que os olhos do grego estavam cheios de ganância para com o escudo. No mesmo momento, o mago segurou no pulso do guerreiro. Ambos se fitaram com olhos penetrantes e cheios de enfrentamento.
-O que foi mago?
-É Melhor não usar Thror.
-E qual o motivo me faria não usar um item tão bom?
E nesse momento, o mago que segurava firme o pulso do grego, agora o tocava com delicadeza. O grego abaixou a mão que ele segurava momentos antes.
-Eu não quero – disse o mago vacilante – que você sofra... Como eu...
Foi então que o grego começou a colocar o escudo na mochila. Ele até pensou em olhar mais precisamente o artefato que carregaria consigo. Mas quando pensou nisso, se lembrou de Lacktum e suas atitudes suspeitas, seu jeito extremamente arrogante, e às vezes, tão perigoso. O item poderia ter sido de um paladino, mas ele deveria estar amaldiçoado assim como os itens do conjunto. Só o que realmente precisavam fazer, era obter todos os artefatos para selar os Portões Infernais. O resto seria visto mais tarde.

Após os espólios, todos se preparavam para partir. Lacktum já preparava a pedra do retorno e já haviam saído do templo. Todos olhavam atentamente para Lacktum, que agora, se parecia mais com seu “pai”, Azerov.
O engraçado é que na ultima viagem através do uso da pedra de Ixxanon, eles perderam um companheiro. E agora eles ganharam três numa manhã só.
-Return.

Havia chamas no lugar. O que tornava a caverna mais sombria. Ela deveria estar em algum lugar no Mediterrâneo. O fogo das tochas encobria a figura no centro do salão. E isso não permitia uma boa visão do homem de pé, no final das escadas.
Um anão entrou na câmara fria e mórbida. Sua armadura negra e seu elmo cheio de adereços, não conseguiam causar tanto pavor quanto o home atrás das chamas.
De costas, o homem de mantos sombrios começou a exigir respostas:
-O que soube do reino da França?
O anão então se ajoelhou, fazendo referência.
-Mestre Kalic Benton II, o túmulo do mestre foi violado. Mas não se preocupe: nada ocorreu com o “corpo reserva”.
-Muito bem. E onde se encontra o rapaz Van Kristen?
-Entre as ultimas informações, soubemos que ele e um grupo de aventureiros estavam próximos do vale das Termópilas. Tem lugar para descansar na torre de Azerov, um notório mago.
-Azerov? Interessante... Ouvi pouco sobre ele, mas o que sei causa curiosidade. A pedra de Ixxanon...
-Lyon e Diogo, pedem que suas respectivas tropas ataquem o covil do mago.
O homem deixa aparecer o olho esquerdo de modo macabro.
-Enquanto mestre não desperta plenamente, eu controlo o Pacto de Guerra! E só eu decido quando e quem atacar!
-Sim mestre, - assentiu com a cabeça o anão – como for melhor para vossa senhoria.
-Mallmor – falou o homem para o anão completamente de costa para este novamente.
-Sim?
-Prepare suas tropas. Não será a Aliança dos Imortais ou a dos Mortos Despertos que irá fazer o cerco a torre de Azerov. A Aliança dos Mestres do Martelo deve chegar as Termópilas e capturar Lacktum e Halphy vivos. Só os dois são imperativos para os nossos planos.
Nesse momento, mesmo com o elmo, era claro que o anão esboçou um sorriso de satisfação. Rapidamente, se curvou de forma respeitosa e saiu da câmara sinistra.
O homem atrás das chamas apertava o punho fortemente até se ferir. O que saia não era sangue.

Todos estavam calmos depois das aventuras que ocorreram no reino da França. Estavam felizes especialmente.
Azerov se alegrava com os aventureiros passando suas tardes brincando em sua torre. Algumas vezes, ele via Thror brincando com os mantos de Madelyne, ao qual Halphy interrompia imediatamente. Gor fazia competições contar Seton, que perdia de modo lastimável. Até Lacktum usava truques para acertar de modo cômico o dono da torre. E ele praguejava contra os garotos como um vovo irritadiço. Já o Feiticeiro Nico, que havia insistido em partir com o grupo, se mostrava um grande irmão mais velho.
Nos três dias, ocorreram somente coisas felizes. Mas foi na tarde do quarto dia, antes que ele começasse a recarregar a pedra de Ixxanon, que um estranho surgiu.Ele batia com força gritando.
-Azerov! Azerov!
-Ora o que...
Quando abriu os olhos para enxergar corretamente o individuo, notou que conhecia o homem cheio de trapos. Para começar, não era um home.
Era o discípulo do monstro que lhe concedeu o livro antigo que tentava decifrar Ele coloca a mão sobre um pano que ficaria no rosto se ele tivesse um. Parecia exausto e se ajoelhava por cansaço.
-Hunareon! O que te aconteceu?
-Soldados... Dezenas... Ou centenas de anões, surgiram no vale das Termópilas, fortemente armados, e se dirigindo para cá. Eles irão chegar logo, pois querem destruir a torre, e tudo que encontrarem, por conta de um grupo de aventureiros. Azerov, que mal trouxe para as terras gregas?
O grupo que ouvia tudo de algum lugar na torre prestava muita atenção na conversa, especialmente nas palavras do estranho de trapos. Lacktum descia a escada, enquanto Azerov atendia o estranho.
-Eles enfim nos encontraram.

As vilas próximas da torre foram esvaziadas. Azerov, assim como o grupo de aventureiros, se preocupava com os aldeões que nelas viviam. Nenhum deles queria ver inocentes, envolvidos em uma batalha, portanto, iriam poupar todos aqueles que pudessem. Os inimigos nunca poupam ninguém, eles sabiam.
Gor e Thror ficaram responsáveis por evacuar as vilas. Já o mago Azerov, preparava várias magias de transporte para levar os mais necessitados, como crianças, velhos, feridos, doentes e mulheres. Arctus se encarregava de convencer alguns.
Quando chegou o dia seguinte, não havia ninguém nas proximidades daquela torre. Só a fauna e flora eram vistas.
Mas algo se aproximava no horizonte. Do deserto que aquele lugar havia se tornado, que já foi parte de uma das maiores polis, surgia um som que quebrava o silêncio. Tambores de guerra eram ouvidos. Batidas rápidas que criavam medo e terror. Era o mesmo tipo de som que alguns dos hospedes de Azerov escutavam quando eram mais novos. Lacktum, Thror e Gor, escutavam aqueles tambores e os passos atrás daquele som infernal, quando jovens. E isso não era diferente naquela tarde. Pois da direção de onde eram as Termópilas, vinha um exército de homens diminutos com armaduras e escudos expostos. Suas armas ficavam nas costas, seguradas por uma tira de couro. Todos usavam em suas proteções, como símbolo, um martelo partido ao meio.
Todo o grupo observava e ouvia tudo do último andar, o mesmo que Azerov quase sempre deixava trancado. Somente o dono da torre e Nico, o jovem ferido no Reino da França, não observavam o fato. Isso acontecia, pois os dois acumulavam mana na pedra de Ixxanon. O plano consistia em transportar todos dali para Avalon. Os mais simples não acreditaram muito nisso, mas tiveram que se calar diante das palavras dos arcanos que ali viviam.
Nico era um mistério que sempre voltava à cabeça de Lacktum e Halphy. Ele parecia conhecer muito de magia, mais até que o próprio Azerov. Isso trazia um, certo receio aos dois enquanto observavam as tropas. Foram tirados desse pensamento pela própria Halphy que notou algo.
-Veja Lacktum, – apontando para á frente do exército – alguém vindo à frente das tropas.
O anão vinha com uma armadura ser um poderoso lorde. O elmo parecia uma cabeça de demônio, cheio de pelos como adereços. Em sua cintura, havia um martelo e um machado que pareciam emanar uma aura de magia. Ele jogou o martelo no chão e tocou a palma da mão esquerda com o punho cerrado da direita em sinal de paz e referência. Gor sabia um pouco dos costumes dos elementais da terra de aço, mas sabia que aquilo era um pedido de dialogo.
Foi então que o anão gritou.
-Os aventureiros que estiveram em Starten, queiram se apresentar!
Aqueles que estavam na beirada da torre começaram a se posicionar. Lacktum, com um ar de superioridade, colocou o pé direito sobre o parapeito. O outro ficava em cima de um caixote, para se apoiar. Ele se curvou e colocou os braços em cima da perna direita. Ele se mostrou como o porta-voz do grupo naquela conversa.  
-O que quer aqui anão? Você serve aquele que dorme nas catacumbas da cidade destruída de Starten?
O anão retirou o elmo. Ele tinha muitos cabelos brancos e possuía uma barba castanha que cobria tanto seu rosto que mal deixava ver seus olhos. Da parte de baixo de sua barba caiam duas tranças.
-Meu nome é Mallmor, antigo lorde dos anões e Príncipe Negro entre alguns! Estou a serviço de meu mestre e senhor, para que respondam pelos acontecimentos que ocorreram naquela cidade! Se entreguem e iremos pensar se pouparemos a maioria!
-Como assim? – gritou Halphy.
-Meu mestre pediu que só dois de vocês fossem realmente poupados! Halphy Brown e Lacktum Van Kristen! Os outros teriam que esperar a decisão de meu mestre, Kalic Benton II! 
-Kalic Benton? – sussurrou Lacktum.
-O que foi? – perguntou preocupada a fealith.
-Não é que, - falou o mago de cabelos vermelhos tentando ordenar seus pensamentos – esse nome não me parece estranho.
Gor então grita:
-Quais os motivos de seu mestre quere eles poupados? Afinal, o motivos ele deve possuir.
-Meu mestre disse - respondeu Mallmor – que Lacktum deveria ficar vivo por motivos pessoais! E é imprescindível que Halphy permaneça viva para os planos dele! Se os dois se renderem, ele talvez pense se vai poupar o resto do grupo.
-Planos? Motivos pessoais – agora quem sussurrava era Halphy.
-Não entendo também Halphy – respondeu Lacktum.
Era possível que Seton estava impaciente com a conversa. Ele cruzava os braços e batia os pés, freneticamente. O druida demonstrou, enquanto esteve no grupo, não ter mínima disciplina quando o assunto se referia a diplomacia militar.
-Só irei ofertar essa chance de rendição uma vez! – gritou Mallmor.
-Deve ser uma armadilha. Com certeza é – sugeriu Halphy.
-Temos que confiar em Azerov. Ele vai nos levar a Avalon – pensou e respondeu Lacktum.
-Qual a sua resposta que tenho a minha oferta? – gritou mais uma vez o anão.
Diga a seu mestre...
Lacktum parou e olhou o resto do grupo. Olhou o grego e sem memória, Thror, com sua ferida na testa. Ficou olhando o antigo poderos Gor, e sua lâmina mágica, se mostrando poderoso. Olhou o rápido e ambicioso Hugo e seu grande amigo Richard, que desistiram de suas aventuras para se aprimorar com Azerov. Reparou em Gustavo, que tanto lembrava seu irmão Federick, fosse por semelhança ou pelo seu senso de justiça único naqueles tempos. Observou então Seton, um druida nada convencional com uma foice tão grande que gerava medo. Halphy parecia tão perplexa com o que estava acontecendo quanto Lacktum, mas só quem a conhecia sabia que ela se assustou com tudo aquilo. Já Arctus, orava tentando demonstrar sua fé, afim de que seu deus intercedesse por todos. Até mesmo Madelyne se mostrava como parte do grupo apesar de conhecer eles a menos tempo.
Depois de se livrar da máscara, Lacktum notou muitas coisas. Ele havia perdido família e várias pessoas amadas, inclusive, a doce e inocente, Lirah para um inimigo desconhecido. O que ele não contava, é que encontraria uma nova família formada por druidas, feiticeiros, paladinos, guerreiros poderosos, ladras sagazes, mulheres encapuzadas e criaturas sidhes. E ele os amava, acima de tudo. Iria proteger a todos.
-Diga a ele que não iremos nos entregar sem uma luta! E que seus exércitos iram enfrentar um grupo bem armado!
-Essa é sua palavra final? O exército da Aliança dos Mestres do Martelo não terá piedade! Mesmo com pedido tardio de rendição!
-Meu nome é Lacktum Van Kristen, e minha palavra é única e definitiva!
-Certo...
Foi então que Seton saltou na frente de Lacktum:
-Quero ver vocês me matarem seus nanicos idiotas! Eu enfrento todos de uma só vez! Até você seu príncipe de nada! Você eu enfrento com uma mão na arma e a outra nas costas!
-Acho que meu amigo aqui – gritou sorridente e constrangido Lacktum – já disse tudo.
Mallmor sorriu e pegou o martelo, enquanto voltava para seus homens. Todos saíram da beirada da torre. Começaram a conversar.
-Seton! – começou a criticar Halphy – Você é doente? Um pouco mais e aconteceria uma chacina!
-Calma, calma, – disse Seton, retrucando – eles não fazer nada fora do comum. Eles não teriam coragem.

Mallmor voltou para seu exército. Todos o olhavam, esperando suas ordens. Colocou o elmo em frente aos soldados que só aguardavam suas ordens, respeitosamente.
Foi então que um deles chegou até Mallmor e perguntou:
-Mestre Mallmor, o que faremos em relação aos aventureiros que estão na torre? Iremos poupar alguém? Ou não iremos poupar ninguém?
Ele se virou e disse com fúria tamanha, que fazia os pelos de sua barba voavam enquanto gritava.
-Matem todos! Não deixem ninguém vivo! E me tragam a cabeça de um rapaz que porta uma foice. Esse eu vou ter o prazer de colocar na parede de meu quarto, como uma prova de sua tolice em desafiar o Príncipe Negro dos anões.

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