Capítulo Dois: Despertar
Eles estavam confusos. Não sabiam se poderiam confiar no pequeno goblin. Sabiam que esses seres eram traiçoeiros, mas havia algo no que ele dizia que fazia muito sentido. Era claro que havia algo errado e os corpos dos aventureiros como mortos famintos traziam muitas dúvidas ao grupo recém formado. Será que aqueles que estavam ali, serviriam para um banquete profano que o padre Jean estava para fazer? Será que eles foram enganados por um suposto servo de Deus? E se pensassem bem, o fato de dois maiores líderes das terras católicas terem partido em direção ao Oriente, teriam deixado aquelas terras desprotegidas. O que poderiam fazer contra uma mal que estaria para despertar tão cedo?
Eles não compreendiam o motivo de tudo aquilo, mas tinham certeza que tinham que voltar a cidade. Todos lá poderiam estar em perigo! Isso era necessário pelo menos. Lacktum não queria o fazer, mas foi forçado pela pequena Halphy, que o atormentou tanto. Os outros já queriam fazer isso pela justiça e pela recompensa que pudesse surgir. Não que Lacktum não quisesse saber de recompensas, mas o verdadeiro motivo de estar ali naquela cidade se chamava Lirah. Não importava um monte de aldeões sem inteligência e sim a mulher que ele amava. Se é que ela estava ali...
Quando subiram as escadas estavam prontos para enfrentar o mal dos mortos famintos. Afinal, se o padre ou a pequenina criatura fossem os causadores de tudo aquilo, não importava. O que se encontrava naquela catacumba era mais importante que tudo que acreditavam. Independente de suas filosofias de vingança, lucro ou justiça serem completamente diferentes, eles já tinham a certeza do que tinham que fazer. Um mal estava para despertar, e o mundo que conheciam iria sofrer. E eles não iriam permitir.
Eles abriram as portas do sepulcro, como se imaginassem que o mal que á pouco tempo enfrentaram, estivesse lá fora. O mago reclamava das feridas que tinha pelo corpo. Halphy falava para ele que o virote que ela tinha na mão serviria para enfiar no pescoço de Lacktum se ele continuasse reclamando. Ele se calou, por ora...
Quando saíram um ar de medo surgiu ali. Como se todos sentissem que o mal permanecesse ali, mas ele não se mostrasse tão abertamente. O ar ficou pesado o cemitério o que já não era difícil de notar. Nenhum dos mortos estava ali. Eles davam graças a suas respectivas divindades.
-Nós vamos ver o que podemos fazer – falou Halphy para a pequena criatura – e então voltaremos para ter certeza do que fala...
-Zas – proferiu o diminuto ser - Meu nome é Zas. Sou o protetor do corpo desse mal que aqui existe e um sacerdote dos espíritos. E eles me dizem que vocês terão uma grande jornada logo.
-Bem – disse Lacktum com cara de escárnio – veja se esses espíritos sabem lhe disser onde esta um corpo de uma conhecida minha.
-Você a encontrará. Eu lhe garanto.
Todos saíram daquele lugar, com exceção das diminutas criaturas e seu líder Zas. E ninguém estava próximo do sarcófago do ser demoníaco que dormia naquele lugar. Então, seria possível ver dedos magros como o de um cadáver, surgindo das brechas do caixão trancado com tantas runas e correntes. Atrás desse som se escutaria:
Acordo... Mundo em ruínas... Morte irá surgir... Eles irão perecer...
O grupo saiu daquele lugar com certo receio. Afinal, era a primeira vez em que eles se colocavam em um problema daqueles. Lacktum já teve muitos problemas, mas nunca contra criaturas mágicas, muito menos mortas! Halphy temia o mal que existia naquele lugar, já que o máximo que ela conseguia era ser atacada por comerciantes zangados, lordes que ela roubava e toda a sorte de problemas humanos. Os outros também tinham esse problema. Mas Thror não se intimidava. Por algum estranho motivo, ele olhava os mortos como um pequeno mal. Ele destruiria qualquer oponente. Ou ele seria um homem extremamente poderoso, era o que pensavam todos, ou extremamente ensandecido.
Enquanto andavam, eles notavam que o cemitério estava vazio. Saíram rapidamente daquele lugar. Richard e Halphy foram os primeiros a sair daquele lugar. Eles se olharam com rosto de cansaço. Alguns chegavam a soltar risadas, da imagem que observavam a frente.
-Ah não me apresentei – disse o druida – Richard, sacerdote da natureza e que esta aqui para acabar com o mal que aqui esta.
-Eu sou Halphy – disse a pequena ladina – uma simples artista, se é que me entende.
-Ou seja, uma ladra! – disse o mago ruivo com uma cara sarcástica. Então ela olhou com um rosto nervoso para o arcano.
-Parem com as acusações sem motivos vocês dois. Aliás, meu nome é Hugo – soltou o feiticeiro de sotaque da terra dos Césares – e como você eu controlo poderes arcanos sombrios. Sou de longe como podem ver.
-É possível – soltou o grego que nunca entendia nada.
-E você? - perguntou o homem ruivo ao homem careca com a cicatriz.
-Eu o que? – respondeu Thror confuso.
-Qual o seu nome criatura?
-Eu não sou criatura. Sou um cidadão espartano!
-Como pode ser espartano, - soltou Halphy – se essa civilização de desfez a séculos?
-Só sei que eu sou. E meu nome é Thror Tzorv.
-Nome estranho para alguém que veio das terras que descendem de Helena – soltou Richard.
-Mas é meu nome!
-Bem, - soltou o homem de cabelos vermelhos – é um nome feio, assim como essa cicatriz enorme em sua cabeça...
-Ora seu...
E enquanto todos discutiam isso a garota perguntou:
-E você ruivo? Qual o seu nome?
O jovem de cabelos ruivos que ficava fitando Thror para se proteger dos punhos abandonou sua posição defensiva e olhou com um rosto sarcástico. Ele então disse:
-Meu nome é Lacktum Van Kristen, ultimo descendente dos Van Kristen e lorde de Van Sirian.
Eles estavam na frente de um lorde inglês. Ou melhor, um futuro lorde. Qual motivo de um filho de nobres para se encontrar entre eles? Foi por isso que muitos duvidaram das palavras do jovem ruivo. Mas logo notaram que apesar de tudo notaram alguns pontos que denunciavam sua herança nobre. Sua pele bem cuidada, suas roupas de linho nobre, apesar de cortadas, muito belas, seu cabelo bem cuidado e um símbolo de sua família com o desenho de um enorme lobo negro. Esse era o maior símbolo de que o jovem era um nobre. E esse símbolo se encontrava na fivela de seu cinto.
Mas mesmo assim, muitos não se espantaram tanto quanto ele realmente queria. O que fez a cara de sarcasmo de Lacktum se tornar uma feição de nervosismo e raiva enojada. Só que Lacktum Van Kristen não era um homem para se deixar forçar pelas pessoas mais simples e sem instrução. Ele continuou andando pomposo como se fosse um lorde entre os homens, ou como um deus entre os mortais.
O que eles realmente notavam era que, sem aviso algum, surgia uma enorme chama de onde deveria ser a pequena vila de Starten. Primeiro acharam que era uma mera e pequena queimada em uma das casas. Mas enquanto se aproximavam do lugar repararam que o lugar estava sendo incendiado.
E quando eles iriam esboçar uma reação, eis que duas figuras surgiram. Uma delas portava uma brunea em tom de prata aquele mesmo mangual pesado batia em seu corpo. Os cabelos loiros estavam todos jogados para trás e seu rosto estava coberto pelo sangue de algum inimigo. Mais atrás, surgia o padre Jean com seus olhos verdes demonstrava espanto ao ver os homens aos quais tinha visto sair da igreja. Ele portava uma armadura de tão boa qualidade quanto seu protetor.
Lacktum e Halphy olhavam para o monge com olhares de perspicácia. Eles sabiam o que os dois pretendiam fazer. Hugo se pôs a frente tentando dialogar:
-Sacerdote, um pequeno duende nos confidenciou que talvez o senhor tenha sido a causa de todos os problemas que a pequena vila tenha obtido até hoje. E agora que o vejo fugir com seu defensor, começo a acreditar que ele estava correto. Não é isso?
O padre cambaleava com as palavras.
-Bem... Compreenda...
-Mestre – soltou o enorme Owen – eles já descobriram a farsa.
E então, o padre que até então demonstrava um ar de fraqueza e simplicidade, tomou um ar de superioridade digna de Lacktum. Ele tirou por debaixo da túnica, uma espada curta afiada. Seus olhos verdes pareciam os de uma serpente. Sua feição o de um demônio que fugiu do Inferno.
-Então sabem de onde esta meu mestre?
-Mestre? – soltou Lacktum, mais curioso do que com medo.
-Sim, o que dorme abaixo do cemitério de Starten. Trazido pelos remanescentes dos que teriam derrotado meu mestre. Afinal devem ter usado de algum truque para vencer ser tão majestoso. Ele me veio em sonhos – disse como se recordasse uma imagem divina - e me disse que eu obteria poder suficiente para controlar a minha morte se quisesse. Ele é um deus em forma de criatura. E como tal, merece sacrifícios.
-Então, - Richard soltou espantado e com raiva – foi você quem usou as pessoas da vila para criar os mortos famintos! Maldito seja Jean!
Foi quando Hugo segurou o jovem elfo druida. Lacktum não esboçou nenhuma reação, mas a jovem Halphy e o grego Thror, sacavam suas respectivas armas. Todos se preparavam para atacar.
-Não importa o que façam, - disse Jean ensandecido – eu irei...
O suposto sacerdote estava se vangloriando até que uma lâmina atravessou o ombro do mesmo por trás da mata. Sua lamina tinha uma ponta maior que um ponta de lança pesada. Só um dos jovens aventureiros o reconheceu.
-Ferreiro Gor!
Todos se encontravam na frente dos oponentes com os rostos atônitos, pois viram o ferreiro atacando padre Jean. Era estranho tudo aquilo, mas era necessário continuar. Começaram então a atacar os dois que haviam lhes contado seus planos. Jean fugiu do alcance da enorme arma de Gor
Thror atacou primeiro como de costume com uma investida. O que fez com que Owen aproveitasse e o acertasse com um poderoso contra golpe de seu mangual. Este foi certeiro, o que não impediu de atacar o protetor do padre. O golpe do grego acertou o braço em que estava a arma. Isso não foi o suficiente para soltar a arma, mas o bastante para o ver gritar de dor.
Enquanto isso, Hugo e Lacktum preparavam suas magias que eram idênticas. Com as mãos estendidas, disseram:
-
Eis que chamas surgiram de suas mãos, criando um cone elemental de fogo que cobriu o padre. Este nem se deu ao trabalho te dar atenção a magia em conjunto, usando sua espada curta contra o corpo do jovem elfo druida. O golpe havia sido feito contra a barriga dele, mesmo assim, conseguiu desviar no ultimo momento. O que fez foi ferir superficialmente Richard no flanco.
Quando isso ocorria Halphy acertou as costas do sacerdote. Ele gritou, demonstrando que mesmo possuindo um plano demoníaco ainda era humano. Pelo menos em aspecto.
Owen iria atacar o grego que foi jogado ao chão. Parecia muito afoito para acertar o guerreiro loiro, o que causou sua queda. Thror visava demais na cabeça, como se pudesse a trespassar. O que tornou sua arma um alvo fácil. Assim como seu braço que foi amarrado pelo golpe. Ele caiu completamente desprotegido. Exceto pela espada que surgiu protegendo sua cabeça que já possuía a marca de uma enorme ferida. Era um novo aliado, pelo que parecia.
Cabelos negros e olhos sagazes surgiam do portador da lamina. Ele parecia ser um cavaleiro simples com um tom daquelas histórias usadas para as crianças dormirem. Parecia o Arthur dos contos de Avalon. Sua cota de malha era poderosa, não pela sua fabricação, e sim pela aura que emanava. Parecia que os deuses o protegiam. Mas acima de tudo, a lâmina de sua arma demonstrava que o seu usuário era nobre. Seus cabelos longos se soltavam e deixavam difícil ver todo o seu aspecto. Ainda assim, inspirava confiança a quem visse aquele cavaleiro.
-Não irá atacar esse homem sem um combate justo. E se não quer – disse o desconhecido – suma desse lugar e não suje esse campo de batalha!
-Ora seu...
Nesse momento, o pedaço de metal da arma de Owen quase acertou o rosto do desconhecido. Retirou uma pequena quantia de cabelo da cabeça dele. Não foi o bastante para intimidar. Parecia que o medo não o atingia. Em nenhum momento ele desviou o olhar do combate. Em muitos anos de guerra, nunca ele tinha visto um combatente com tanta capacidade de concentração. Foi quando o estranho falou novamente que ele matou a charada sobre o misterioso guerreiro:
-Pela vontade de Cernunnos! Sua arma não irá fazer tombar um homem que se guia pelas palavras do deus-cervo. Lute como um homem de verdade.
-Um guerreiro santo? Ouvi falar sobre vocês, mas nunca encarei um em combate. Perdão se não posso estender esse combate, mas preciso me manter em foco. Adeus!
-Adeus, digo eu! – soltou Thror levantando em um golpe quase perfeito. Este acertou a testa de Owen. Combinou de último momento com a estocada do aliado misterioso, Owen entrou com toda sua espada longa no peito do protetor do padre. Ele caiu por sobre seu assassino, desfalecido.
-Owen! Não! Maldito se... – quando iria terminar sua frase, uma mão tocou seu rosto com tanta fúria que parecia que queria tirar o rosto do suposto sacerdote. Era Lacktuma com uma fúria que beirava o animal. A luta já estava decidida. Mas ele queria respostas.
-Eu só estou lhe poupando até agora, pois imagino que talvez você tenha respostas das quais preciso.
Todos se espantavam com o aspecto do mago naquele momento. Eles até entenderam que o tal mago fosse rancoroso, afinal, já havia ficado nervoso antes por Halphy ter lhe salvo a vida. Mas o seu atual estado não parecia com nada do que agia antes. Era como se um demônio possuísse a consciência do mago. Um terrível demônio cheio de ódio.
-Ora arcano – falou maliciosamente o sacerdote, enquanto Lacktum segurava suas roupas clericais – qual o motivo desse seu apaziguar do ataque?
Nesse momento o padre Jean tentou atacar o mago com sua espada curta. Quando Lacktum proferia algumas palavras, notou a tentativa de seu inimigo de tentar o atacar. Nesse momento ele pegou o braço do sacerdote e o quebrou.
-Me fale logo miserável! E lhe darei apenas uma chance! Onde esta o corpo Lirah Lugarao’Céu? Onde? E onde esta o mago mascarado que trouxe seu corpo? Notou que sou um mago, deve saber de quem falo! Vamos! Solte tudo!
-A garota esteve aqui, isso é verdade. Assim como o mago ao qual esta a procura – mas quando uma ponta de alegria surgia na face do mago ruivo ela desapareceu – foi embora com o corpo e partiu. Ele disse que iria auxiliar na ressurreição de nosso mestre Talvez a usasse num ritual. O que realmente deveria ser maravilhoso. Dizem que quando mais bela a mulher, melhor é a oferenda...
Halphy iria perguntar algo quando de repente notou a face do mago se contorcer em raiva. Era como se o demônio tivesse voltado para seu corpo. Ele começou a apertar o pescoço de Jean com tamanha força que os homens mais fortes naquele grupo só conseguiram soltar suas mãos quando já era tarde demais. O sacerdote Jean estava morto.
Eles chegaram até a cidade quando o fogo estava alto o bastante para cobrir boa parte das casas. Havia pessoas correndo e fugindo como loucas durante a queimada de seus antigos lares. Era uma luta contra as chamas e contra o tempo. Quanto mais demorassem, menos chances haviam de vencer. Mesmo o rio estando próximo da cidade não facilitava o trabalho dos aldeões. Afinal, as chamas provinham de uma fonte arcana. Isso era óbvio para quem era razoavelmente entendido no assunto como Lacktum ou Hugo. Até mesmo Halphy, que mal começou a trilhar os caminhos arcanos, já sabia distinguir os atos de mago ou feiticeiro.
-Eles acabaram com quase tudo – disse Gor tremendo de raiva.
-Realmente, - disse Lacktum sem muito espanto – mas o que me interessa é o que realmente você quer aqui. Afinal de contas você não é somente um mero ferreiro. Isso esta óbvio
-Mas do que fala meu caro eu sou só...
-Um ferreiro? Com o tipo de golpe que acertou em Jean e a precisão que conseguiu? Eu acho que não – disse rindo a jovem ladina – sei muito bem sobre ataques desse gênero. E mesmo um desavisado poderia ser dilacerado com uma lâmina dessas. Mas você o queria vivo. Estava querendo obter informações. Suas opções eram o atingir de forma que o deixasse muito ferido, mas ainda consciente para ceder informações.
-E ainda por cima – começou a falar o mago – alguém que traz junto a si um paladino não pode ser qualquer um. Revele logo quem é!
-Meu nome é Gor. Sou um soldado que serve a Inglaterra em eventos fora do comum. Minha missão era investigar fatos de aspecto arcano que estavam ocorrendo nessa cidade, já que ela não fica tão longe do litoral. Lugar ótimo para um ataque as nossas terras. O que não contávamos era com um padre convertido ao mal. Muito menos que alguém o mataria.
-Bem, - disse o guerreiro sagrado – de um jeito ou de outro deixe me apresentar. Meu nome é Federick de Salles. Gostaria de ter conhecido a todos de modo mais propício. Apesar de não ser mais uma terra que venera plenamente o deus-cervo, meus superiores me pediram que auxiliasse no que pudesse nos problemas que aqui surgiam.
Lacktum deu de ombros como se não ligasse para a situação ou o fato do cavaleiro ter sido tão educado e começou a andar em direção a igreja. Ela começava a pegar fogo, crepitando como a imensa fogueira que parecia. Uma chama muito forte vinha da cruz central que queimava mais do que qualquer coisa. Mas atrás dela e do altar se via um corpo humano completamente desfigurado com golpes terríveis de uma adaga. Era uma jovem mulher, pelo pouco que se reconhecia. O mago não se espantou. Em outro lugar, á certo tempo, ele viu cenas não tão cheias de modos macabros ou tom ritualístico, mas foi o bastante para acabar com uma vida.
O ventre da mulher estava aberto. Dentro dele, havia uma caixa de madeira nobre com um símbolo que Lacktum conhecia muito bem. Um lobo negro enorme.
Ele abriu a caixa com receio que nada de útil fosse encontrado. Quando abriu a caixa havia um pequeno pergaminho. E então Lacktum o leu:
Como sempre em sua miserável vida, você chegou tarde demais caro Lacktum. Fiquei sabendo que estava por essas terras e então lhe deixei esse presente. Mas se acalme, pois um dia ainda irá encontrar sua linda Lirah. Quando esse dia chegar, saiba que serei eu que te concederei esse dom único. Pode me agradecer no Além. Adeus.
Nesse momento, Lacktum soltou um grito profundo de dor. Ele não achou sua amada Lirah. Mas acima de tudo, não encontrou o homem que ele queria tanto destruir.
Enquanto tudo isso ocorria, o grupo de aventureiros auxiliava no que podia os aldeões de Starten. Gor e Thror quebravam portas das casas que incendiavam ou retiravam grandes toras de madeira de cima dos que não conseguiam se proteger da destruição de suas casas. Hugo e Halphy auxiliavam entrando em lugares que muito não conseguiam ou poderiam entrar normalmente. Federick e Richard usavam seus dons divinos como modo de cicatrizar as feridas nos corpos dos mais machucados ali. Isso era uma coisa fácil para ambos, afinal, Cernunnos e Diana eram deuses com dogmas parecidos entre eles. Não houve nenhum desconforto entre eles, pelo contrário, ambos se deram muito bem auxiliando no que cada um não era perito.
Todos eles faziam isso com um imenso pesar olhando para o que já teria sido uma vila prospera e bonita. O grego limpava sua face cheia de fuligem, enquanto o inglês erguia mais uma das imensas toras que caíram sobre seu antigo lugar de trabalho. Era uma encenação necessária para poder se aproximar do problema em si. Mas lá ele teria sido feliz. Como não havia sido á muito tempo.
Halphy não ligava muito para isso, afinal eram humanos. Mesmo sendo de uma segunda geração de fealith - como os elfos tratavam os de sua raça - ela nunca deve um grande apreço por humanos. Seu pai, até onde ela sabia devia ter sido um humano, mas nunca se concentrava nisso. Era sempre em seu ancestral, Sinestro que seus pensamentos se focavam. Um poderoso elfo que deveria lhe ceder um poder único. O controle sobre as vontades de toda e qualquer forma de vida. Mas para tanto, deverá ter muita paciência. Saiu de casa muito cedo, pelos padrões humanos de idade. Tudo por conta de mensagens que recebia em sonhos. Sonhos esses que lhe chegavam como um novo horizonte se abrindo para aqueles olhos amendoados. Afinal, poder era uma das coisas mais apreciadas por Halphy. Mais do que dinheiro e controle, até.
Já Thror, enquanto ajudava os moradores da cidade, se concentrava naquele que os teria salvado de um ataque do falso sacerdote Jean. Maldito e petulante homem, pensava ele. Se intrometer na batalha de um descendente dos antigos espartanos, contra seu adversário. E ainda por cima, em vez de auxiliar a nós, homens de verdade salvando os que estão aflitos e em perigo, ele perde tempo usando seus dons divinos para cicatrizar feridas. Ora isso não era atitude de alguém que se dizia guerreiro. Mesmo que fosse um guerreiro sagrado.
No momento em que alguns deles se perdiam nesses pensamentos pessoais, eis que surge Lacktum saindo da igreja de Starten. Ele passava pelo centro da cidade como um pequeno tufão de fúria, que ficava estampada em sua face. Sua mão esquerda esmagava um pequeno pergaminho, que se contraia com magia de fogo. Seus cabelos vermelhos eram jogados para trás pelo forte vento que surgia com o começo da noite, enquanto seu manto parecia tomar vida e se agitava sem direção.
Quando chegou ao meio da cidade, olhou para trás em direção da construção que instantes antes, teria encontrado o pergaminho que estava em cinzas na sua mão. Com isso gesticulou de forma elaborada, como se moldasse em pleno ar um jarro de argila imaginário. Feito isso, uma grande quantidade de energia arcana se acumulou em suas mãos como a seta de uma flecha, só que muito maior. E então, com uma fúria indomável, aplicou uso de sua magia para uma forma conhecida da cidade. Parecia que sua raiva seria aplacada quando destruísse aquele símbolo. O poder que acumulou até então tomava forma de energia destrutiva que obliterou a cruz que se fixava no alto da igreja.
E então Halphy foi até ele perguntando qual o motivo de sua fúria contra um símbolo do deus católico. Ele respondeu:
-Eu entrei na igreja. Mas foi engraçado – disse com um sorriso forçado – Deus não estava lá.
Feito isso, tirou a mão que Halphy colocou em seu ombro e continuou a andar para longe da cidade.
Tempos depois, os aventureiros se encontravam numa passagem que mais para frente atravessava as montanhas e criava um vínculo com o litoral. Boa parte dos aldeões tinha fugido pelo outro caminho. Mas eles preferiram acompanhar Gor que tinha mais revelações a fazer.
Todos se mantinham de pé, exceto Lacktum que sentava em uma pedra maior que se encontrava naquele lugar sem muitas arvores.
Dados obtidos por arcanos que servem ao rei da Inglaterra, teriam previsto que um grande mal estava para despertar em Starten. Esse mal teria sido aprisionado num período quando o Império Romano do Ocidente ainda possuía grande poder, apesar de seu enfraquecimento pelos constantes ataques que sofria dos bárbaros e disputas internas de poder. Homens de grande força e inteligência teriam obtido, através da Arte, um modo de aprisionar uma parcela da consciência da criatura. Isso devido ao fato que não se sabia onde estava seu verdadeiro corpo. Isso tudo batia de frente com o que Zas, o duende verde, teria falado para eles. Nunca mais olhariam um ser daqueles como antes.
Eles estavam numa situação nova. Nenhum deles sabia o que fazer. Muito menos como agir numa guerra. Isso se ela ocorresse. Muitos só sabiam que a criatura que estava adormecida poderia acabar com a paz, que por tantos séculos existiu nessas terras. E isso era mais claro, sendo que os lideres dos povos estavam nas Cruzadas. Combatendo o mal que surgia nas terras orientais eles se esqueciam que as trevas poderiam dominar suas terras. O que meros jovens poderiam fazer? Mas Gor, trouxe junto com Federick, uma nova motivação.
-Se dizem que o Oráculo de Delfos pode nos responder tais questões de onde esses artefatos estão – disse Gor pensativo – seria bom encontrar um marinheiro competente para nos levar. Afinal, por terra não chegaremos tão cedo. Para ser sincero, sei de alguém que pode nos auxiliar de uma forma única. Um pirata.
-Pirata? – soltou Halphy
-É sim – o guerreiro inglês soltou – É um ótimo navegante. E lendas contam que usa de meios mágicos para fazer sua embarcação flutuar mais rápido que qualquer nau que exista no mundo. Na verdade, acredito que ele esteja no litoral.
Quando Gor citou sobre a magia que cobria o fantástico navio, Lacktum riu com a idéia de um item tão magnífico.
-Eu não sei quanto a vocês, mas eu pretendo enfrentar o que for necessário para deter esse mal. Eu irei contigo Gor – falou firme Federick.
-Mas tem consciência do que poderá encontrar no caminho? – Halphy alertou.
-Qualquer coisa que se colocar em meu caminho será eliminado pela minha espada e minha fé em Cernunnos, o deus do povo das fadas!
-Eu sinceramente acho essa sua frase cheia de frivolidades – soltou Thror, querendo irritar Federick, mas continuou – porém, se até um homem cheio de modos afeminados como você se atreve a enfrentar tal ser... Um homem que descende dos espartanos não pode fazer por menos... Não acham?
Todos o olharam com ar de estranhamento. Mas nada disseram. Só o que pensaram era como ele, como grego poderia ser tão estúpido. Aquilo deveria ser ignorado por enquanto.
-Vamos nos unir nessa jornada desconhecidos?
Foi então que Hugo soltou:
-Não nos chame de desconhecidos, nos trate por companheiros Salles.
E falando isso, o feiticeiro estendeu a mão. Gor copiou seu gesto rapidamente pousando a sua mão sobre a de Hugo. Todos os outros o seguiram pensando muito antes. O ultimo a fazer isso foi o mago ruivo. Ele se levantou da pedra em que esteve todo o tempo dessa inútil conversa, pensava ele. Chegou próximo dos aventureiros e então disse:
-Espero ser recompensado no final dessa campanha.
Quando esse colocou a mão por cima de todas as outras, era possível notar não muito ao longe a chama crepitante da pequena cidade de Starten. O mal que eles estavam para enfrentar era muito maior e mais antigo que qualquer coisa. Até mesmo que as chamas que surgiam no que já foi uma pequena vila
Longe, entre as chamas surgia uma figura com mantos negros uma pequena lira em suas mãos.
-O Hades virá para terra...
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