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17 de abr. de 2012

Contos do Tempo Perdido - Livro 2: "Matarei em nome de Mallmor!"

Capítulo Sete: “Matarei em nome de Mallmor!”
O feudalismo se formou por meio de um processo que combinou elementos de origem romana, como o colonato, com outros, de origem germânica, comitatus.
Com a divisão do Império Carolíngio, houve o enfraquecimento do poder do rei. Quando os vikings, árabes e húngaros invadiram a Europa, nos séculos IX e X, os reis carolíngios pediram ajuda militar aos nobres e doar a eles um feudo.
Assim, enquanto os reis carolíngios perdiam poder, os nobres foram se fortalecendo, e o feudalismo se consolidou. Aquele que doava um feudo era chamado de suserano ou senhor, e o que recebia era chamado de vassalo. Com o feudo, o vassalo recebia o direito sobre a população que ali vivia e trabalhava. A doação do feudo se dava por meio de um juramento de fidelidade, pelo qual um nobre se comprometia a proteger e auxiliar o outro militarmente.
Mas sem que os homens soubessem, elfos, anões, e todo tipo de criatura mágica já usava um sistema similar ao deles. Em alguns pontos até melhor.
Nas terras élficas, como em Avalon, os lordes dessa raça não são os donos das terras. Quase sempre possuem pequenas propriedades, controladas pelos membros da corte ou até mesmo pelo rei. Já os elfos livres têm o poder de decisão sobre os lordes, jurando aliança por um ano. Caso o sidhe livre não fique satisfeito com a proteção do lorde, ele poderá escolher outro. Um sistema mais avançado que o feudal humano.
Mas entre os anões não existia um líder máximo há muito tempo, só os lordes. Cada um representando um dos pontos cardeais da Rosa dos Ventos. Esse conjunto de lordes se reunia sempre para tomar decisões sobre sua raça. Esse evento era chamado como o Levante dos Escudos, pois os mestres dos anões levantavam suas proteções com as duas mãos como sinal de paz e boa fé.
E foi durante um desses eventos que houve a maior traição entre os anões: a morte de um lorde por outro. O Lorde do Norte, Mallmor, matou e roubou o Lorde do Noroeste, Daigon.
Era ele quem liderava o ataque contra a torre de Azerov.

Vários anões, bem equipados, cercavam a torre. Todos com escudos cheios de desenhos rúnicos. Eles queriam simbolizar fidelidade ao Príncipe Negro dos anões. E até seu grito demonstravam sua devoção.
-Mataremos em nome de Mallmor!
Os ecos dos gritos de adoração se tornavam cada vez maiores. Como os gritos espartanos que um dia estivera naquelas terras. Mas aquilo era diferente. Lacktum olhou para Thror. Os dois se encaravam com medo, notando o que estava para acontecer. Eles iriam invadir a torre.
-Temos que ir para o andar inferior. Gor, - Lacktum começando a guiar os passos do grupo – fique protegendo Azerov.
-Não seria melhor eu ir com vocês? – perguntou o guerreiro inglês.
-Não sabemos se eles possuem magia, - respondeu o mago – pode ser perigoso deixar ele sozinho. E você é o mais velho e experiente entre nós. Bem experiente, para falar a verdade.
Foi quando Gor notou que a palavra do mago tinha total razão. Azerov era o único que podia salvar a todos. E apesar de poderoso, já era velho para suportar um ataque enquanto estivesse conjurando a magia. Gor então consentiu com a idéia.
Eles desceram a escada, como pequenos trovões, entrando na sala do segundo andar. Enquanto cruzavam o quarto, observavam Azerov concentrando as energias arcanas dentro da pedra de Ixxanon. Assim como feito antes, ele preparava o transporte para todos. De repente, Nico segurou o braço direito de Lacktum, fitando os olhos do jovem mago.
-O que escolhe: eu parto contigo ou fico com o velho? – perguntou o feiticeiro.
-Mas do que esta... – antes que terminasse a frase, Nico continuou.
-O nosso destino é um só. E só nós o controlamos.
Foi então que Lacktum entendeu que as coisas estavam mudando para ele. E não era por Azerov, nem Gor, muito menos Nico. Talvez ele não notasse, mas era o amor que sentia por todos que o fazia querer proteger a todos. E se ele tivesse que tomar uma decisão agora, isso influenciaria no destino do grupo. Parecia que os olhos do mago fossem uma encruzilhada, fazendo com que Lacktum tivesse que tomar uma decisão. E foi então que ele tomou uma decisão.
-Fique – foi respondido pelo mago.
E naquele momento, Lacktum se desvencilhou do aperto de Nico. Por alguns momentos, Lacktum não focava na vingança. Ele pensava como proteger aqueles que confiavam nele, que se encontravam na torre.
Ele passou pela porta, se posicionando na escada. Na sua frente estavam Arctus, Seton, Hugo, Richard, Halphy, Gustavo e Thror. Pela primeira vez, eles olhavam como se esperassem algo a mais do que as palavras debochadas do ruivo. Eles esperavam um líder.
-Halphy fique do meu lado. Você é boa em acertar a longa distância, mas não agüenta muitos golpes no corpo a corpo. Seton, Hugo, Arctus e Richard, fiquem no meio auxiliando e mantendo assistência. Os nossos guerreiros serviram de escudo. Thror e Gustavo, no meio da escadaria. Mas só ataquem quando eu mandar. Quando isso ocorrer, suas espadas serão testadas. Não iremos, e eu afirmo - disse Lacktum com força na voz – permitir que eles nos vençam! Temos que fazer o possível para vencer! Eles não irão nos deter!
-É isso ai! – soltou Thror.
-Por Deus e pelo sangue de meus companheiros – disse o paladino - que morreram protegendo minha terra natal, vamos deter eles e sair daqui.
-Não precisamos, muito menos, podemos ter mais corpos que o necessário. Por isso, - disse o mago em repreensão – não ataquem sem minha ordem! Compreendem?
-Certo – respondeu Gustavo.
Foi então que Halphy o olhou, cheia de dúvida e perguntou:
-Mas o que aconteceu com você para estar agindo como nosso líder? E Gor? Onde esta ele?
-Ele vai ficar junto de Azerov. Precisa de proteção.
-Tudo bem, mas isso não me responde a outra pergunta. Qual é a razão de estar tão firme agora?
-Eu só refleti melhor sobre o grupo e o que devemos fazer. Nós estamos ligados, assim como Kalidor nos disse. E como tal devemos nos unir nos momentos de crise. Não somos só amigos, somos irmãos. No destino.
Enquanto falava isso, era nítido o semblante de determinação e crença de todos. Todos acreditavam em Lacktum antes, mas era mais pelo seu poder arcano, ao qual nem Hugo se igualava. Mas agora era diferente. Eles realmente se tornaram uma família.
Era como se um novo Lacktum surgisse depois de usar aquela máscara macabra de carne humana. Um Lacktum sereno e amoroso até, mas firme como um patriarca.
-Vamos amigos! – Lacktum esbravejou.
-Sim! – todos gritaram. E então se posicionaram. A batalha iria começar.

Os guerreiros anões se posicionavam e preparavam seus machados para estilhaçar a porta da biblioteca. Os tambores de guerras agitavam os ânimos dos soldados. Estes, por sua vez, seguravam os machados com tanta força, que chegavam a ferir os próprios punhos. Seus olhos miravam além da porta, como se imaginassem o que iriam enfrentar. Seria fácil o combate.
Foi então que houve o comando:
-Ymosod ac ny chymerant drugaredd!
E eles atacaram, como se a porta fosse um inimigo a ser destruído de uma só vez. Machado atrás de machado, cortes atrás de cortes. Tornando as fissuras em buracos, os buracos em aberturas, até que fosse possível ver o interior da sala. E quando isso ocorreu, adentravam com ferocidade a biblioteca. Apesar de tudo eles eram bem treinados e não iriam pilhar ou destruir a biblioteca, para que mais tarde, pegassem os livros do experiente mago Azerov. Eram como cães domesticados pelo mesmo dono. Cães de guerra de Mallmor.
-Mataremos em nome de Mallmor! – repetiam.
Enquanto repetiam seu mote, atravessavam a extensa sala. Eles queriam chegar até a porta, no final da escadaria.
-Mataremos em nome de Mallmor! – soltavam como uma prece.
Os refugiados de Azerov haviam colocado vários móveis na frente da porta. Eles não ligavam. Jogavam longe os pedaços inúteis de madeira, com toda a força que lhe restava.
-Mataremos em nome de Mallmor!
Os da frente pareciam cansados, mas seus golpes ainda se tornavam cada vez mais furiosos. Como um pequeno tornado, terremoto, ou qualquer outra força destrutiva da natureza.
-Mataremos em nome de Mallmor!
Os soldados partiram ao meio a porta. Como se fosse um mero obstáculo.
-Mataremos em nome de Mallmor!
Não era um exército, era praticamente uma criatura. E ela não seria derrotada.

Lacktum não tirava os olhos da direção onde ficava a porta. Ele colocou a mão direita na manopla arcana que acumulava magia. Acreditava estar pronto para usar o item que criou, mas temia errar. Não errar talvez, mas falhar com seu poder. Será que assim era o poder da liderança sobre os outros? Ele se questionava, enquanto destruíam o último fragmento da porta.
Enquanto se preparava para o ataque, notou um movimento de Thror e Gustavo, que pretendiam rechaçar os inimigos antes do comando.
-Não se movam!
A ordem veio como um relâmpago, mas não tinha surgido do mago.  A fealith foi quem ordenou que os dois parassem. Ela sabia que era necessário manter a ordem no campo de batalha. Era outra que notou que algo tinha que mudar naquele grupo. Mas Lacktum pensava se isso era realmente bom. Mas ele não poderia se concentrar nisso agora, mesmo por que, ele nunca foi um santo também. Pensando bem, havia vezes que seu instinto falava mais alto quando se referia a Halphy.
A porta ao qual surgiria a tropa inimiga havia estourado.

-Matarei em nome de Mallmor! – repetiam com mais força, enquanto subiam as escadas.
Os anões subiam com cuidado, enquanto observavam o grupo na escadaria. Pareciam acuados, mas nem um pouco fracos em seu semblante. Pareciam trazer desafio em suas faces e seguravam suas armas com vontade.
-Esta na hora de esquentar as coisas! – e quando pronunciou isso, Lacktum só acenou para Halphy, que preparava uma magia.
-That spiders may serve me! And the enemies do not live!
 De repente, uma imensa rede de uma teia pegajosa, cobriu os soldados anões. Alguns se desvencilhavam da armadilha, já outros permaneceram no truque mágico. Foi nesse momento, que do antebraço do mago, um chicote de chamas tocou o material pegajoso, uma imensa labareda atingindo todos os soldados de Mallmor naquela sala. Esses gritavam com a força ígnea da magia.
-Se mantenham firme até que o mestre vença! – gritavam os que não eram atingidos pela teia mágica.
-Quero que se mantenham firmes, - falou o mago inglês – depois que sentirem a lâmina grega! Thror! Gustavo! Agora!
Eles não puderam investir, mas como estavam numa posição superior – mesmo com as criaturas sendo menor em estatura – ficaram em vantagem contra os soldados. Quando Gustavo ficava exausto, Thror mantinha a linha de frente no combate.
 Os arcanos lançavam muitas magias de fogo para compensar a baixa participação no combate. Já os sacerdotes curavam em um revezamento improvisado, especialmente por que se perdessem os guerreiros, perderiam a batalha. Esses últimos usavam as espadas sem nenhuma falha no combate, para proteger seus companheiros a todo custo. Até mesmo Halphy, no alto da escada, lançava mão sua pequena besta, para atingir os inimigos restantes que sua magia, às vezes, não afetava.
A batalha se tornava intensa, mas controlada. O grupo parecia preparado para enfrentar qualquer perigo. Os anões pensavam ter encurralado os oponentes, mas eles estavam errados. A única preocupação do grupo era manter o segundo andar a salvo.
Já o mago, se preocupava com o velho Azerov. Ele imaginava que Gor e Nico fossem atacados pelo alto da torre, e não conseguissem conter os inimigos. Madelyne era uma moça tão frágil e Azerov tinha que se concentrar no teleporte. Se o velho morresse, o mais próximo de pai que Lacktum teve após a morte do verdadeiro. Ele não podia permitir que alguém o ferisse de modo algum. Não novamente, quando ele obteve tanto poder até agora. E esse não era o momento para aquilo.
O sacerdote Arctus temia que suas magias de cura e bálsamos acabassem, antes que eliminassem todos os inimigos. Pelo menos, os que entraram na torre. Um exército estava lá fora e eles precisavam ser fortes o bastante para conter eles por um bom tempo. Ele sabia que Thror e Gustavo eram fortes, mas não imortais muito menos imbatíveis. Ele percebia que o rosto do grego demonstrava pouco cansaço, mas ainda assim, o clérigo já via marcas exaustão em seu rosto. Já no paladino, se via esses problemas, mas sua pompa de príncipe falava mais alto.
Todos sabiam que os fatores do terreno e da experiência do grupo, favoreceram até agora eles. Os oponentes eram arremessados pelas espadas longas, enquanto outros se colocavam no lugar dos derrotados. Os anões eram fortes e resistentes. Mesmo os estavam caídos, traziam dificuldade para os aventureiros, criando obstáculos no combate. Uma vez ou outra eles acertavam o grego, o que fazia todo o grupo temer. Até agora, o guerreiro serviu como escudo. Mas se ele caísse, Gustavo não conteria os inimigos por muito tempo.
Cada instante para respirar, cada momento de alivio, parecia o ultimo. Hugo e Richard temiam já que em boa parte das últimas aventuras, não participaram ativamente. Halphy achava que nunca deveria ter ficado do lado daqueles homens, afinal, Sinestro lhe falou certa vez, que alguém descendente dele, não deveria confiar em formas inferiores de vida. Agora, ela tava razão ao ancestral.
Agora, as magias de cura do sacerdote Arctus, se concentravam no guerreiro grego. E eram as últimas magias desse tipo, naquele dia. Richard e Seton haviam acabado com todas as magias deles. Mesmo por que, a especialização deles não era as magias de cura, e sim de invocação de animais. E essas magias não serviriam de muita coisa ali. Os guerreiros anões eram experientes e meros animais não iriam deter nenhum deles.
Os cortes nas armaduras não paravam o combate. Quanto se acreditava que os aventureiros venceriam a batalha, o exército tirava forças de onde não existia nada. Mas o mesmo poderia se falar dos aventureiros. Se não fosse a bravura que seus corações continham, teriam sido dizimados pelos primeiros golpes dos machados. O tempo parecia que havia parado naquela escada.
-Azerov – gritou o jovem Lacktum – seu velho louco! A magia esta pronta? Não agüentaremos para sempre.
-Mais alguns instantes, - gritava o experiente mago em resposta e repetidas vezes – mais alguns instantes! E não me interrompa!
-Praga!
-Lacktum, - gritou Halphy aflita – uma ajuda aqui seria bem vinda!
Ele então notou ao que ela se referia. Alguns anões, preparados com machadinha leves se colocavam em posição para suas pequenas armas contra o grupo. Foi então, que ele conjurou uma pequena esfera incandescente contra os anões. Diferente do que muitos imaginavam, ela não explodiu.
Enquanto outros guerreiros anões subiam aquela escada.
-Matarei em nome de Mallmor!
-Alguém faça o favor de calar a boca desse bando de nanicos! – exigia Thror.
-Que foi amigo? Cansou o braço Thror? - perguntava o entusiasmado Gustavo.
-Cansei sim, mas foram as orelhas! Eles não mudam o sermão!
E enquanto falava isso, cortava a garganta de mais um que estava a sua frente.
O lugar mais parecia uma cena de massacre. Os jovens se perdiam em pensamentos totalmente diferentes. Aversão, piedade, ódio, compaixão, raiva e fúria. E isso influenciava no campo de batalha e sua paisagem. Os aventureiros venciam até agora, mas a que custo?
Foi quando Lacktum gritou:
-E então Azerov, essa magia...
-Esta pronta!
-Como?!
-Entrem logo e fechem a porta! A conjuração esta pronta!
Foi então que Lacktum subiu um pouco as escadas, quando o fez, recitou as seguintes palavras:
-That slide down on my enemies! Like I do with dangers!
E assim, o chão foi coberto por um óleo negro e deslizante, o que impedia a subida dos anões na frente de Thror. Eles caiam sobre os de trás. O que tava tempo ao grupo para chegar até Azerov. Mas não muito.

Todos estavam apreensivos. A magia estava pronta e Azerov mandou que todos entrassem no círculo. O círculo arcano foi formado como sempre. Mas Lacktum notou algo estranho nas ações de Azerov:
-Como eles não irão nos seguir?
-Tome isso.
Falando isso, o experiente mago entregou um pergaminho e um tomo. Era o livro escrito em diversas linguagens.
-Azerov, você não me respondeu.
-A mensagem deve ser entregue ao regente Arda de Avalon.
-Vamos mesmo para Avalon? – perguntou Halphy.
-Calada! E você Azerov – exigiu o mago – me diga como eles não irão nos seguir?
-O tomo deve ser entregue, também ao regente. Ele poderá decifrar as escritas contidas nele.
-Me diga o que quero saber!
-Madelyne vai poder ajudar vocês. Em ultimo caso.
Pegando o mago pelos braços, Lacktum grita:
-Você não quer me falar!
-Eu vou ficar e partir o portal.
Lacktum não se conformava. Os outros gritavam para que o mago tomasse seu lugar entre o grupo que seria afetado pela magia.
-Não.
-Alguém tem que ficar...
-Não.
-Com a finalidade de impedir...
-Não.
-O rastreamento através da Arte...
-Não! Não! Não!
-Não digo eu Lacktum! Você não pode exigir nada de mim garoto. Eu fiz muito por vocês, e exijo – falou apontando para o jovem como um pai que trata com o filho – que se salvem. Faço isso, pois jovens como vocês merecem um futuro que não traga guerras e mortes desnecessárias. Eu estou velho e cansado demais para deixar que façam isso com vocês garotos.
-Mas eu não acredito que seja necessário isso. Você não pode... Não deve ficar aqui!
-Eu estarei bem, mas veja.
Foi então que Lacktum notou Gustavo e Thror segurando a porta com uma barricada improvisada.
-Seus amigos precisam de você agora. Pense meu jovem. Ou você será tão tolo como eu já fui um dia?
-Mas...
Azerov abraça fortemente o intrépido Lacktum.
-Um dia, - falou isso chorando – esperava ter um filho como você.
Foi então que o mago inglês notou que ela havia conquistado algo que perdeu a muito tempo. Azerov era mais que um mestre, era um pai que o tratava como Lacktum queria. Os olhos do inglês se encheram de lágrimas. Então, ele se desvencilhou do abraço do velho.
-Que a Arte lhe seja útil, velho louco.
-Ela sempre protegeu e sempre irá proteger jovem inconseqüente.
Foi então que Gor gritou:
-Vão estourar a porta!

           
Quase todos se mantinham no círculo. Gor, que ficava na entrada superior, se colocou dentro da magia. Thror e Gustavo pularam longe da barricada improvisada.
Lacktum olhou para Azerov pesadamente.
-Você não partira conosco, velho caduco? – tentou em um ultimo esforço inútil o mago.
-Não se preocupem comigo. Eu sei me cuidar e terei Nico comigo.
Foi quando Lacktum olhou para o jovem feiticeiro que resgataram no templo de Ixxanon... Mas não era momento de dúvidas.
-O destino nos trouxe aqui, - começou o feiticeiro – e nos manterá enquanto quisermos. Se cuide meu jovem.
Halphy reparou a frase de Nico. Alguma coisa estava escondida na frase do feiticeiro. Jovem? Ele possuía aparentemente, dois ou três anos a menos que o mago inglês. Como poderia tratar Lacktum como um jovem? Ela já desconfiava, mas não iria disser nada. Por enquanto.
Os machados começavam a mostrar suas pontas na barricada. Não havia desespero, mas sim tristeza nos olhos de todos. Com formas de lagrimas.
-Adeus, Azerov – todos diziam.
-Proteja o mago, Nico – falavam alguns.
-Se cuide, velho amigo – soltou baixo Lacktum.
-Não é um adeus, - sorriu Azerov – é um até logo.
A barricada se partia ao meio. Azerov esticava o braço em um gesto de magia.
-Quando o veremos novamente, - perguntou Halphy – meu velho amigo?
-Por favor, - falou Gor – você vai estar bem? Vai ficar bem?
As madeiras dos armários não existiam mais. Elas deixaram um caminho aberto até a sala. Foi quando o mago Lacktum enxugava os olhos, enquanto o velho Azerov se concentrava.
-O destino é um só!
Quando ouviram isso de Lacktum, todos se sentiram bem. Thror sorriu, Gor guardava a espada, Seton olhava esperançoso, Halphy se sentia mais confiante, Arctus orava com mais vontade, Hugo se mantinha firme, Madelyne chorava, Gustavo segurava fortemente a arma, enquanto Richard olhava com esperança para Azerov. Foi então que Lacktum acenou com o gesto de despedida que aprendeu com Naktuh.
-Partam! – conjurou Azerov.
Só restaram na sala Nico e Azerov. O ar do lugar parecia com uma calmaria que antecede a tempestade. Foi quando um único anão atravessou os restos barricada. Era Mallmor, antigo lorde dos anões, mestre do Norte, o Príncipe Negro dos anões, o traidor dos forjadores e o ouro negro dos protetores.
-Onde esta o grupo Azerov? Onde estão Gor, Halphy, Lacktum, Thror e os outros, velho humano?  – clamou como um trovão o anão.
-Longe – falando isso, Azerov esticou o braço partindo ao meio o círculo arcano com um movimento da mão. A magia crepitava como se fosse algo vivo que definha lentamente.
-O que fez velho louco?
Quando Azerov iria falar foi ouvida uma voz sinistra no recinto. Como se ela tocasse a alma do experiente mago e do jovem feiticeiro de cabelos loiros.
-Não importa. Sei para onde foram.
Foi quando um manto surgiu na sala. Era longo e grande, trazendo um ar de superioridade. O negro da roupa se confundia com o manto. Na cintura vários utensílios arcanos. Suas mãos eram podres como as de um cadáver. Seus cabelos castanhos e bem cuidados demonstravam que descendia de linhagem nobre ou aristocrática. O peito não era coberto por nenhuma vestimenta, a não ser um medalhão que parecia ser arcano. A face era coberta por uma máscara de aço fria, que não trazia expressão alguma. Do buraco dos olhos na máscara emanava energia sinistra esverdeada que crescia como uma linha toda vez que se movia.
Essa figura aterrorizou a mente de Azerov naquele instante.
-Pelo grande Hermes, - falou aterrorizado Azerov – o que ou quem é você?
-Eu sou aquele que forjou Lacktum Van Kristen, e você é mais uma impureza que vou eliminar.
           
Quando abriram os olhos, Lacktum e o grupo estavam em outro lugar. Parecia o outono da Inglaterra, alguns pensavam. Os mais sábios em assuntos geográficos, como Arctus e Seton, sabiam que se tratava de um lugar próximo da Terra das Brumas. Pararam de frente a uma pedra, que dava para um lago enorme. A pedra era grande e um pescador usava uma vara para pegar alguns peixes. Quando notaram, repararam que o pescador era um elfo e calmamente mexia com a linha na água.
Um cenário das terras gregas que das quais partiram, que os fizeram estranhar a situação. Tanto lá, como ali, o outono os atingia do mesmo modo, mas não com o mesmo gosto. Eles saíram de um massacre e estavam agora numa terra de quietude e paz.
-Vieram em nome de quem? – disse o pescador.
-Como? – estranhou Thror.
-Vocês vieram em nome de quem? Foram trazidos aqui pela Arte. Então com certeza vieram atrás de mim.
-Quem é você? – questionou Gor.
-Meu nome é Lunariel. Um dos porteiros de Avalon. Alguém que abre a conexão entre esse mundo e o das fadas. Os portais antigos aos quais os homens esqueceram, por se preocuparem mais com eles mesmos, do que com que realmente importa.
-Mas Avalon esta em outro plano? – perguntou curioso Lacktum.
-Não e sim, sim e não. Os homens não enxergam como nós e para eles, o espaço não é o mesmo, escondendo de sua vista os que não crêem. E quando acreditam, acham tão fantástico, que parece ser outro mundo. Vocês humanos são tão tolos.
Halphy e Richard riram. Parecia uma conversa, que os patriarcas das famílias élficas, falavam aos mais novos. Era uma tradição entre eles a passagem desses ideais, afim manter o respeito com as leis élficas e que os sidhe não perdessem essa visão do mundo.
Foi então que Lacktum disse:
-O universo é um só.
Richard olhou com espanto. Essa é uma frase que muitos sábios elfos usam para designar como a vida funcionava em todos os reinos, mundos e planos. A vida de todos pode mudar, mas o universo sempre foi e sempre será um só conosco. Uma filosofia era eternamente citada nos reinos élficos. Um humano não deveria saber sobre isso. Era um conhecimento que pouco difundido entre os não puros.
Lunariel sorriu. Ele sabia que havia verdade nas palavras do mago.
-Muito bem! Tenho alguns barcos preparados para a travessia até Avalon... Ah! E vocês estão na Inglaterra. Queiram me seguir.
Enquanto todos andavam, tentavam entender as coisas e se preparavam para partir seguindo o elfo, os pensamentos de Lacktum se concentravam em Azerov. Ele só queria que o caduco estivesse bem. 

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